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EMAIL ENVIADO AO JORNAL DA NOITE, DA REDE BANDEIRANTES DE TELEVISÃO, EM REFERÊNCIA À COBERTURA DOS EVENTOS RELACIONADOS AOS ATENTADOS DE 11 DE SETEMBRO DE 2001 NOS EUA, EXIBIDA EM 11.09.2002.


Prezados Senhores,




Lamentável exemplo de mau jornalismo o que foi oferecido anteontem ao telespectador da Rede Bandeirantes durante o Jornal da Noite. Em referência aos atrozes atentados terroristas praticados contra os EUA em 11 de setembro de 2001 foi ao ar um conjunto de reportagens e entrevistas sobre o tema. A Rede Bandeirantes demonstrou que segue fluente pela correnteza do jornalismo reles que domina a grande mídia brasileira, reproduziu a infame dobradinha do sensacionalismo com o slogan "fora USA". Foi uma overdose de justaposição das imagens dos jatos colidindo com as torres do WTC e de variadas demonstrações de antiamericanismo.




Entre imagens dos escombros daquilo que ficou conhecido como "ground zero" e depoimentos de bombeiros e sobreviventes, vimos o repórter Roberto Cabrini falar deste mesmo local que os esforços dos EUA ainda traziam resultados incertos, pois ainda não se sabe que fim levou o terrorista Usama bin Laden. E quanta mística em torno deste criminoso. Pelo menos um bloco inteiro dedicado à sua figura, sendo o aspecto da ignorância quanto ao seu paradeiro frisado e ressaltado diversas vezes, exposto como uma vitória sobre a bilionária máquina de guerra americana. Milhares de soldados contra um único homem que continua desaparecido foi a tônica, porém em momento algum foi sequer levantada a hipótese de isto seja uma ou a verdadeira estratégia americana. Pois do mesmo modo o público não viu nem ouviu dos "expertos" de plantão da telinha que benefícios eventualmente seriam extraídos da prisão ou exibição do cadáver de bin Laden pelo governo americano. Seriam estes mais seqüestros e atentados pela "libertação de bin Laden" ou mais homicidas se explodindo por toda parte como vingança pela morte do mártir-mor ou em busca de mais fama do que a de Usama? Bom, isto está fora do "debate".




Depois vimos novamente o tal do Sheik Jihad. Como sempre afirmando que não há provas contra o bin Laden, lembrando que à época dos atentados ele costumava dizer que não havia provas de que os assassinos fossem de religião muçulmana, entretanto esse argumento já ficou um pouco passé. O Sheik afirmou que os vídeos de Usama bin Laden foram traduzidos de maneira errônea, editados e manipulados para tornar culpável seu protagonista. É uma teoria interessante, talvez bin Laden, um homem inteligente, tenha enviado às redes de TV vídeos inocentes que ele sabia que iriam ser adulterados para inculpá-lo, demonstrando deste modo as intenções ímpias das potências ocidentais. Porém, a seletiva memória jornalística da Rede Bandeirantes, não lembrou ao repórter Roberto Cabrini, o entrevistador do Sheik, que o primeiro vídeo enviado por bin Laden após o início da operação Liberdade Duradoura, foi liberado para exibição pública pelo governo americano sem qualquer tipo de dublagem ou legendas.


Estas foram produzidas posteriormente pelas redes de televisão, sendo a versão exibida aqui no Brasil a de autoria, se bem me lembro, da CNN. Se há culpa por manipulação maliciosa da informação é da própria imprensa. Todavia o Sheik Jihad, nominalmente cidadão brasileiro, tem direito a ter e expressar a opinião que quiser, coisa que seria negada a ele em sua terra natal. O curioso, é perceber que para falar da religião muçulmana a Rede Bandeirantes convide um clérigo desta mesma religião. O que diria ele que valeria o tempo do telespectador? Ele nos surpreenderia dizendo que a religião islâmica prega o ódio por onde tem adeptos e que despreza a vida e alma das vítimas de atentados? Obviamente que não. Será que a Rede Bandeirantes não poderia ter convidado alguém com uma visão menos parcial para falar do islã e seus vários aspectos? Ou melhor, se por algum motivo qualquer fez ou faz questão da presença de Jihad, poderia ter convidado um outro indivíduo com opinião oposta ou mais distanciado do assunto. Ao menos isto, em nome do bom jornalismo e pluralidade, se estes termos realmente importam para a Rede Bandeirantes.




Continuando, vimos a tal reportagem feita numa escola. Mais uma vez assistimos a celebração da figura mítica do "jovem", aqueles que imaginam produzir excelentes juízos sem coisa alguma saber. A reportagem nos contou sobre um grupo de estudantes de uma escola que enviou uma carta para outros estudantes de outra escola perguntando o por quê dos atentados, sendo estes últimos de uma escola muçulmana aqui do Brasil. A presta resposta primeiro fazia menção às vítimas do ataque de 11 de setembro para logo adiante comparativamente lembrar ao leitor sobre as vítimas de ações militares dos EUA no Oriente Médio e colocar a questão do controle do petróleo como eixo principal de todo este problema. Vimos também mais um "especialista" em estratégia, desta vez um coronel, explicar que o único interesse dos Estados Unidos no Oriente Médio é o petróleo, deste modo a guerra ao terror seria apenas uma justificativa. Faltou a este Sr. explicar como Muhamad Atta e seus asseclas sanguinários da Al-Qaeda poderiam estar defendendo os interesses nacionais de seus países de origem ao jogar aviões de carreira contra alvos civis nos EUA. Talvez, o repórter Roberto Cabrini pudesse ter perguntado a este Sr. aonde jogaríamos nossos aviões numa próxima campanha do "Petróleo é Nosso". Mas, não há motivos para perguntar se já sabemos que o problema é o petróleo e não se fala mais nisso.




Para finalizar o desfile de besteirol produzido pela Rede Bandeirantes, o telespectador foi brindado com as declarações da Sra. Maristela Basso, membro do curso de Relações Internacionais da USP. A representante da proto-Nomenklatura globalista/socialista desfilou sua cantilena esquerdista sobre a importância da ONU -- Alguém já viu algum jornalista brasileiro se perguntar para que e a quem serve a ONU? -- e como o "direito internacional" é robusto e fracos são os dirigentes. É uma pregadora da nova religião dos burocratas e intelectuais... afinal de contas O Partido não erra, quem erra são seus camaradas. Ainda que seu rostinho bonito possa ter anestesiado os ouvidos dos incautos para seus "...os Estados Unidos vai... (sic)", seu discurso antiamericano era claro. Acusou os EUA de isolacionismo e chamou-os de belicosos, pois que pelo seu ponto de vista independência e soberania são palavrões, além do que o direito à autodefesa constitui crime em todas as esferas, da individual à nacional. Alertou para o fato que um ataque por parte dos Estados Unidos ao Iraque, sem o endosso da ONU e seu Conselho de Segurança, constituirá num crime contra a ordem internacional.


Bem, não custava à entrevistadora Maria Cristina Poli chamar a atenção da Sra. Basso para o fato de que os EUA ainda não abriram mão de sua soberania em favor da ONU, e sendo assim agem como suas consciências e seu governo deliberarem. Mais uma vez, que esta Sra. defenda seus interesses de classe tudo bem, mas tendo sido ela convidada a dar seus palpites num programa de televisão, caberia à emissora, se esta possui alguma pretensão à imparcialidade e pluralidade, convidar outro indivíduo de posição contrastante àquela expressa pela esquerda internacionalista para expor ao público que existem outros pontos de vista e que até aqui mesmo no Brasil ainda somos uma nação soberana e não filial das Nações Unidas. Mas, assim como em outros assuntos, no nosso país não discutimos -- muito menos a imprensa -- o que já é opinião unânime.




Todo dia é possível observar que imparcialidade e diversidade de opinião são apenas slogans de propaganda para a grande mídia brasileira. E a Rede Bandeirantes não é nada original, não faz mais do que repetir o monólogo esquerdista do pensamento único. Eu poderia terminar esta mensagem com votos de que espero para breve uma postura mais correta e moralmente honesta por parte da Rede Bandeirantes, mas sei que isto está aquém da qualidade da Rede Bandeirantes e do que ela realmente quer fazer. Apenas aponto o fato de que nem todos nós, telespectadores, somos tolos desavisados.




Atenciosamente,




João Pedro Jacques