sábado

Feitos com a mesma massa

Bruno Moretzshon - Desde que o resultado das eleições para deputado federal foi divulgado e todos ficaram sabendo que Enéas Carneiro tinha entrado como recordista de votos, uma onda de protestos vem assolando nossos jornais e revistas. Nessa semana, até o New York Times entrou na brincadeira, aliás como já era de se esperar. ( Uma pergunta: até quando os nossos jornalistas vão empurrar o NYT ao povo brasileiro com se ele fosse um veículo que reflete o pensamento de todos os americanos, e não como o jornal esquerdista que ele é? ). Segue o barco: podemos afirmar que não mais de dois tipos de argumentos são dirigidos contra o barbudo.



Primeiro: o tom usado por ele é considerado ofensivo pelas donzelas de plantão, inaceitável num regime democrático, incompatível com esses tempos de civilidade que nós, aqui na República Federativa das Meias Palavras, desfrutamos. Segundo: Enéas é fascista, de direita, um belicoso com delírios atômicos.



O primeiro tipo de argumento, se é que se pode chamá-lo assim, pode ser refutado, ou melhor, explicado se o leitor atentar para uma característica do nosso povo: o gosto pelas palavras em detrimento do que elas expressam. James Bryce assinalou que no Brasil as pessoas "parecem preferir palavras a fatos". Aí está a principal causa do ódio a Enéas. Devido a seu jeito enérgico e enfático de falar, o deputado eleito vem angariando uma fileira de inimigos no meio jornalístico e na academia. Um dia desses, um amigo meu (universitário) disse que o Enéas é um tremendo fascista mas que ele não sabia explicar por quê...



Comentando o segundo tipo de argumento assinalo que Enéas, apesar de ser qualificado de direitista , não tem no programa de seu partido nada que não possa ser endossado pelo esquerdista mais empedernido. Como Lula, e como a maioria dos políticos brasileiros, Enéas é um estatólatra, ama a máquina estatal. Para quem conhece um pouco de História, é mais do que claro que fascistas e comunistas nunca tiveram uma divergência séria em termos de doutrina, já que o primeiro nada mais é do que uma variação do segundo. Mussolini chegou a afirmar: "Entre nós e os comunistas não existem afinidades políticas, e sim, intelectuais. Assim como vocês[ comunistas], acreditamos num estado forte, que imponha uma disciplina férrea a todas as pessoas".



Outras afinidades podem ser traçadas, como por exemplo a colaboração da União Soviética com o nazismo etc. Como o leitor pode observar, não há nenhuma incompatibilidade importante entre radicais de esquerda e de direita, de modo que estou certo de que em pouco tempo Lula e Enéas aparecerão abraçados por aí, num love danado. Será engraçado ver a nossa imprensa redimindo o barbudo.



Seria também engraçado, se não fosse trágico, a vista grossa que a mídia fez quando Lula, em encontro com militares, afirmou que seria bom para o país retomar o programa atômico. Pois quando Enéas defendeu a mesma idéia, nossa imprensa esquerdista se fez de donzela ofendida, proferiu contra o exótico político os piores xingamentos, os já famosos "nazista", "fascista" e "belicoso".



Em entrevistas, Enéas sempre destacou a discordância que tem com o governo FHC com argumentos econômicos elaboradíssimos. Porém, quando perguntado sobre Lula, respondia que o petista era um ignorante, um bocó , um burro. Para a mídia, isso já é suficiente para torná-los adversários eternos.


Carta Capital: panfletagem e propaganda


João Pedro Jacques - Após a análise pertinente a um caso da grande mídia, passo para um outro estudo, agora relativo à mídia de menor porte, que apesar do tamanho reduzido não é menos danosa.


O caso da revista Carta Capital, dirigida pelo Sr. Mino Carta, é grave. Esta publicação quase passa despercebida como um comum periódico de notícias. Mas não o é. Ela ostenta ao pé das letras do título da capa a frase: “política, economia e cultura”, possui um layout bem convencional e uma pauta relativamente bem diversificada.


Todos estes elementos são uma espécie de camuflagem, têm a função mimética de travestir de imprensa a publicação do Sr. Mino Carta. Mas a revista Carta Capital não é integrante genuíno do universo do jornalismo, mas sim do campo da panfletagem chula e da propaganda ideológica sórdida. É mais uma arma da esquerda no campo de guerra da cultura.


Carta Capital dedica dezenas das suas páginas ao avanço das idéias socialistas e à Revolução Cultural ao estilo de Gramsci. Em caso de dúvida, basta adquirir um exemplar da mesma, ou visitar seu site na web (www.cartacapital.com.br). Aparentem
ente trata-se de uma revista voltada para empresários e executivos, pois entremeia suas “reportagens” de fundamento falacioso e viés
comunista com outras sobre carros de luxo e mulheres de perfil bem delineado, seguindo especificamente neste contraponto o receituário das “men's magazines” estrangeiras.


Este fato me leva diretamente à conclusão de que seu objetivo, dentro da estratégia revolucionária, é o de corromper as mentes dos homens responsáveis pela tomada de decisões envolvidos diretamente na cadeia produtiva. Destruir a sociedade capitalista através da infusão de idéias que repugnam o livre mercado e a acumulação de capital, justamente entre aqueles encarregados de dirigir entidades do mercado. É uma manifestação explícita da maligna Revolução Cultural.


O caráter grotesco deste panfleto mal fantasiado de jornalismo é ainda mais aparente agora às vésperas do pleito presidencial. Carta Capital não faz segredo nem mistério e diz para quem for tolo o suficiente para ouvir: “Escolhemos Lula há muito tempo”. Este é o título do editorial da edição nº 210, publicada em 9 de outubro de 2002, assinado pelo próprio Sr. Carta.


Em plena campanha por Lula, Carta Capital pode tanto parecer com uma revista comum quanto com uma publicação interna do PT — neste último caso, provavelmente voltada exclusivamente para a cúpula do partido. As matérias políticas publicadas
durante as semanas do segundo turno procuram, quase que invariavelmente, enaltecer as qualidades do candidato petista e apresentar sua plataforma de propostas como a certeza de um futuro governo sólido, responsável e, sobretudo, próspero. Quase não há espaço para o candidato José Serra, normalmente tratado com uma mistura torpe de cortesia e desprezo.


Para resumir, acredito que se o Sr. Carta resolve editar folhetos, pasquins, livros ou o que seja, contendo propaganda marxista sobre luta de classes, defesa da absurda teoria econômica socialista, antiamericanismo irracional, textos que ridicularizam o modelo socialista fabiano do governo tucano — por ser considerado muito “moderado” —, deboche ou flauteio da economia de mercado e
propaganda eleitoral do candidato do neo-partidão, além de cobrar cinco reais por exemplar, não é problema meu.


Meu dever aqui é chamar a atenção para o fato de que, no Brasil, nem tudo que se parece com jornalismo o é realmente.
Misturar panfletagem de baixa categoria com reportagens sobre cinema, não transforma o primeiro em material sério e digno.
Entretanto, ocorre que o público brasileiro, desabituado a pensar, toma uma coisa pela outra e é no breu da irreflexão e da
limitação ideológica das mentes que a revista Carta Capital finca suas raízes.


Bom, este é apenas mais um dos diversos casos em que a barreira entre a simples reportagem dos fatos e a propaganda ideológica está rompida, em prejuízo da audiência incauta e da Verdade. Cabe ao próprio público superar a inércia e discernir o que é doutrinação do que é a realidade das coisas.


sexta-feira

Continuação do artigo "Para muito além do simples jornalismo", de João Pedro Jacques



CASO I

GloboNews: O painel de um lado só de William Waack


A grande mídia já cerra decisivamente fileiras com o futuro
governo. Exemplo disto são as Organizações Globo, que
poderiam ser tranqüilamente descritas como a mais influente entidade
socialista em atividade no Brasil.


Um de seus tentáculos é a rede de TV a cabo. Dentro desta
há um canal dedicado exclusivamente ao jornalismo, o GloboNews, uma
espécie de CNN à brasileira — talvez só um pouco
mais à esquerda.


Neste canal, no último domingo, dia 20 de outubro, foi exibido o
programa GloboNews Painel, apresentado pelo jornalista William Waack. O tema
desta edição foi “Neoconservadorismo americano.
Ameaça ou não?”.


O Sr. Waack em outros tempos já prestou um bom serviço ao
público brasileiro por publicar o livro “Camaradas”, onde
revela a face menos conhecida e menos palatável do “cavaleiro da
esperança”, o já falecido agente comunista Luís
Carlos Prestes. Nesta época, ele enfrentou a ira da velha guarda
stalinista, em especial da própria filha do Sr. Prestes.


Bom, agora isto já é passado. Para tratar do tema do
“neoconservadorismo americano” o Sr. Waack montou um peculiar
painel de um lado só e justamente o lado esquerdo. Seus convidados
eram Humberto Saccomandi, editor internacional do jornal Valor
econômico, Francisco Carlos Teixeira, historiador vinculado à
UFRJ, e Sabrina Medeiros, professora de história da UFRJ.


Todos os palestrantes convidados e o próprio anfitrião do
espetáculo dedicaram os aproximadamente 30 minutos de
duração do programa à propaganda esquerdista. As
perguntas enunciadas pelo apresentador já assumiam como verdadeiras
uma série de premissas próprias de um viés socialista.
Estas, por sua vez, procuravam apenas ressonância nas respostas pouco
esclarecedoras dos “doutos” senhores ali presentes, que
através seus títulos e cargos buscaram dar credibilidade
às teses implícitas.


É assaz eloqüente a denominação “direita
virulenta ideologizada” que o Sr. Waack empregou para definir os
setores sociais “neoconservadores” norte-americanos. Pois que,
valendo-se de uma incrível e elíptica manobra da
lógica, este pelotão de infantaria do socialismo foi capaz de
definir e descrever o fenômeno por eles determinado de
“neoconservadorismo”, sem pronunciar uma vez que fosse o termo
Revolução Cultural.


Estes senhores por diversas vezes empregaram o termo
“conservador” sem explicitar claramente o quê se buscaria
conservar e em vista do quê alguém se disporia a tal tarefa.
Eles de modo bastante confortável omitem o fato de que esquerdistas
pelo mundo afora, desde meados do século passado, adotaram a cultura
como seu principal campo de guerra revolucionária, deste modo
abandonando as tradicionais técnicas guerrilheiras dos Prestes da
vida.


O termo “neoconservador” demanda que haja novidade. E qual
novidade seria esta? Pelo que este painel nos explicou, a diferença
consistiria no fato que os conservadores tradicionais se resumiriam a
indivíduos que defendem o liberalismo do tipo clássico.
Já os “novos” conservadores possuiriam como traços
marcantes o fundamentalismo religioso, a insatisfação com o
direito pleno à liberdade de expressão, a veemência na
posição contra o aborto e a defesa incondicional do direito
à propriedade e porte de armas de fogo.


Será isto verdade? Pois, outrossim, os “novos”
conservadores seriam tão velhos quanto seus predecessores. De fato,
na tese supracitada há a falsa premissa esquerdista de que os
defensores do liberalismo clássico são toupeiras míopes
que enxergam o mundo apenas como uma feira-livre. No caso norte-americano,
os temas da religião, da liberdade de expressão, do direito
à vida e à defesa estão presentes desde a
fundação dos EUA, juntamente com o direito à
propriedade e à livre iniciativa.


Quanto à questão da “novidade” no
conservadorismo, é provável que depois de décadas de
combate na esfera da cultura, os socialistas tenham se surpreendido com o
fato de que não conseguiram converter a todos, havendo ainda
indivíduos capazes de se organizar e oferecer resistência
contra a Revolução Cultural. Pode estar aí a resposta.
Houve a formação de uma nova oposição,
pós-contracultura, para combater as esquerdas no campo em que por um
longo tempo reinaram absolutas.


A partir disto, foi possível se observar que este painel de um
lado só, enquanto esteve no ar, se dedicou a desqualificar a
contrapartida americana à Revolução Cultural de maneira
genérica, procurando descrevê-la como bitolada, ignorante e
obtusa. Fato ou argumento algum foi debatido em profundidade. Minuto
após minuto os presentes buscaram levar a questão para o campo
da ideologia, mais uma vez sem a necessária e fundamental
demonstração plena do que caracterizaria a direita americana
como “ideologizada” — neste caso transpareceu a aleivosa
noção esquerdista de que “ideologia” é a
simples defesa de uma idéia qualquer.


Finalmente, o que encerra este caso é que este programa
supostamente pertence ao universo do jornalismo. Não sou seu
telespectador habitual. Portanto, não é impossível que
em outras ocasiões mais felizes o tal painel tenha se projetado para
além do espaço bidimensional e o telespectador possa ter sido
agraciado com a imparcialidade e a pluralidade de postos de vista. Mas isto
não foi o que ocorreu no GloboNews Painel do dia 20 de outubro. O que
houve foi, mais uma vez, o rompimento da barreira entre jornalismo e pura
propaganda ideológica.


Para muito além do simples jornalismo


João Pedro Jacques - Responda-me alguém, o quanto há de fato e o quanto
há de desejo nas páginas e minutos de rádio e
televisão da imprensa brasileira? De que matéria é
feito o jornalismo no Brasil?


O problema já começa no termo “jornalismo”. Seu
significado não é muito específico na língua
portuguesa. Sua definição mais imediata pode ser descrita
singelamente como “a imprensa periódica”, sem haver maior
qualificação do que isto se trata. Apesar de que, dentro da
visão cotidiana, é difundida a idéia de que o
jornalismo diz respeito à descrição correta e imparcial
dos fatos, esta noção não possui respaldo dentro da
tradição erudita. Talvez isto seja decorrente do fato que
jornais e gazetas, na história de Portugal assim como na do Brasil,
originalmente eram propriedades da coroa e serviam aos interesses do Estado,
não necessariamente à verdade dos fatos.


Ocorre que, neste caso, a língua inglesa é bem mais
específica que a nossa. O termo “journalism” define
precisamente a escrita caracterizada pela apresentação direta
dos fatos sem haver uma tentativa de interpretá-los. Para o
jornalismo do tipo que advoga uma causa ou apresenta os fatos a partir de um
determinado ponto de vista há o termo “advocacy
journalism”.


Aparentemente, nunca atingimos o mesmo grau de objetividade da imprensa
anglófona. Isto talvez possa ser creditado ao fato de que nossos
regimes democráticos sempre se demonstraram débeis e a
liberdade de idéias e expressão estão muito longe de
ser um traço marcante da cultura brasileira.


No Brasil há abundância de exemplos das
relações nada saudáveis entre imprensa e Estado, ou
melhor dizendo, imprensa e proselitismo político. Mas aqui cabe
novamente a pergunta: isto é jornalismo de fato? A mídia
jornalística continuamente nos adverte da sua importância para
a construção e manutenção da democracia. Pois
bem, ela cumpre a sua parte? Se a tradição da nossa
língua não dá suporte à noção de
imparcialidade é porque este conceito não foi
satisfatoriamente desenvolvido na prática.


Nestas duas semanas de segundo turno do pleito presidencial, estamos
vendo a maré vermelha subir e tomar conta da planície
semi-árida do jornalismo nacional. Hoje, a imprensa brasileira
é basicamente petista — ainda que haja uma turbamulta
colérica acusando-a de favorecer um candidato que já
está derrotado desde o dia 6 de outubro. Alguém pode
argumentar contra ao dizer que este fenômeno, que ocorre a olhos
vistos, se trata apenas de mais uma manifestação do adesismo,
tolo ou oportunista, que caracteriza esta última quinzena de
campanha. Entretanto, esta maré não subiu tal ordem de
grandeza de um dia para outro. Este processo já vem de longa
data.


Aqui e ali, os nódulos revolucionários gramscistas se
formaram e criaram para si uma vasta rede de vasos de
alimentação, eliminando as oposições reais ou
potenciais. O corpo doente da sociedade pensante, talvez por falta de
convicções, não foi capaz de perceber que, a cada dia,
morria mais um pouco. O que se passa hoje é algo mais que
oportunismo, é a realização de um projeto de
décadas. Na política ocorrerá o triunfo de uma guerra
que se deu não nas urnas, mas no front cultural — como
definiu Patrick J. Buchanan, “the forgotten front”.


Um imparcial correspondente estrangeiro poderia reportar ao seu jornal
que, em nossas terras, “journalism” é avis rara,
pois por toda parte só se vê “advocacy journalism”.
No Brasil a barreira entre propaganda ideológica e
descrição cotidiana dos fatos já foi concretamente
rompida. Existem exceções, pequenas ilhas de responsabilidade
em pleno oceano carmim, e de muito o público brasileiro
dependerá delas nos anos vindouros.


Faço, então, duas pequenas análises de caso que
sumariam nossa realidade. Não faltam exemplos como os descritos
abaixo, alguns mais amenos, outros piores. O leitor pode examinar por conta
própria.


O primeiro caso trata da grande mídia, o segundo da mídia
de menor porte. Novamente, fazem-se necessárias neste momento as
perguntas: o quanto há de fato e o quanto há de desejo na
imprensa brasileira? De que matéria é feito o jornalismo no
Brasil?



Continua..

quinta-feira

Claudio Humberto deu o alerta

Em sua coluna de hoje publicada em alguns jornais do país, o jornalista Claudio Humberto veiculou uma nota intitulada "Pedra no Sapato" informando que as resoluções do décimo encontro do Foro de São Paulo sumiram da página da organização na Web. O encontro ocorreu em Havana em dezembro passado e reuniu todas as forças revolucionárias marxistas do continente, inclusive Lula.



Foi neste encontro que Lula teria agradecido a Fidel pela sua existência. A retirada do ar destes documentos deve ter sido feita a pedido do próprio PT depois que a imprensa internacional e uma pequena parte da midia brasileira passaram a veicular as provas de que o PT mantém profundos vínculos com os narcoguerrilheiros das FARC, por exemplo. Não é momento de isso vir à tona ainda mais quando se sabe que Antonio Palocci mandou abrir um escritório de apoio às FARC em Ribeirão Preto no começo do ano.



Curioso é notar que o coordenador da campanha de Lula é tido como um petista "moderado" pelos jornalistas. Mas de moderado o pivô do caso Romanée-Conti não tem nada. Ele e seus subordinados acham legítimo que as FARC ganhem dinheiro com a droga e assim possam manter sua luta contra a democracia colombiana. Mas eles não são anti-pacifistas..., diria o Observatório.

Leia em Notalatina

O Notalatina esta semana reproduz carta do líder oposicionista venezuelano, Alejandro Peña Esclusa, presidente da Fuerza Solidaria, escrita em 6 de outubro para o ditador Fidel Castro. Há cinco anos Esclusa adverte o perigo que seria o governo da Venezuela nas mãos de Chávez e niguém lhe deu a menor importância; hoje, arrependidas da bobagem que fizeram, as pessoas vão às ruas tentar remediar essa situação caótica e desesperadora em que se encontra o país.



http://notalatina.blogspot.com



quarta-feira

Se Jung estivesse vivo...

Oriana Curitiba, especial para o OFFMIDIA - C. G. Jung dizia que o homem, em direção a um estado de consciência superior, tem de superar primeiro a “enantiodro-mia”, palavra que significa “correr na direção oposta”. Tal mecanismo inconsciente faz, por exemplo, com que certas pessoas, ao lerem o texto de uma tabuleta em que se diz “não pise a grama”, se sintam na irresistível obrigação de contrariá-lo.



A energia psíquica desembestada obedece cegamente a esse impulso, característico das almas “coletivas”. Sob seu jugo, fica-se ao sabor da irracionalidade absoluta, porque todas as decisões tomadas obedecem a um padrão de respos-ta automática, que não passou por nenhum crivo da consciência.



Se hoje o sábio suíço estivesse vivo, decerto ficaria surpreso com os eleitores que justificam seu voto em Lula porque ele representa a “mudança”. Ele acharia estranho o uso inadequado do termo, porque, afinal, “mudança” significa simples-mente “alteração, modificação ou variação de estado”: ele não traz consigo marcas de valor, pois se pode mudar para pior ou para melhor.



Jung perceberia também que a tendência à alegada “mudança”, por não ter rumo preciso, é fruto perverso da enantio-dromia: se a situação me desagrada e surgem promessas de “mudança”, eu embarco na dita cuja, uma vez que a expec-tativa de mudar o quadro atual é mais sedutora do que o esforço de refletir sobre o que está sendo prometido em relação ao que vai ser modificado. Essa atitude compulsiva é como uma aposta num jogo de azar, no qual a atração pelo “tudo ou nada” é mais forte do que a prévia avaliação sobre as perdas e danos.



Estamos diante do clímax de uma estratégia com o perfil de um xadrez psicológico: a oposição demoniza o governo, identificando-se, sempre, com a insatisfação pública; o povo vê em seu líder um sujeito que promete transformar as coi-sas a seu favor; as mensagens veiculadas no período eleitoral são demagógicas e incoerentes mas ninguém percebe isso porque a enantiodromia impede o exame objetivo dos eventos. Xeque-mate.



Jung, a essa altura, faria o mesmo diagnóstico que proferiu depois da tomada do poder pelos nazistas: o povo está pre-parado para levar ao poder o sujeito que personifica, com seu discurso inarticulado, o poderoso impulso coletivo em dire-ção à grama...



Eis um resumo do que Jung disse sobre Hitler, no capítulo "Depois da catástrofe" (in: Aspectos do drama contemporâ-neo): se considerarmos que o homem não vive longe dos demais, aos quais se acha ligado pelo inconsciente, então um crime nunca pode ocorrer de maneira isolada como pode parecer à consciência. Ele ocorre num âmbito bem mais vasto. Sua percepção provoca o interesse pela captura e julgamento do criminoso, demonstrando que as pessoas, desde que não sejam insensíveis, são excitadas por ele.


Platão já sabia que a visão do feio provoca o feio na alma: o mal alheio rapidamente se transforma em mal generalizado, na medida em que acende o mal na própria alma. O assassinato acontece, dessa forma, dentro de cada um e de todos.



A esperança crescente no Estado não é um bom sintoma e significa que o povo está a caminho de se transformar num rebanho à espera de seus pastores e um bom pasto. Só que os pastores se tornam posteriormente lobos.
Foi essa a impressão obtida quando a Alemanha, aliviada, ouviu um megalomaníaco dizer: "Eu assumo a responsabili-dade". Quem tem algum instinto de autopreservação sabe que só um impostor assume a responsabilidade pela existência do outro.



Quem tudo promete e nada cumpre está em vias de se valer de expedientes escusos para cumprir a pro-messa feita, ou seja, manter a impostura, abrindo o caminho para uma catástrofe.



Esses sintomas, a completa cegueira acerca do próprio caráter, a depreciação dos outros, a falsificação mentirosa da realidade, "o querer impressionar" e se impor, reúnem-se naquele homem que foi dado clinicamente como histérico mas que um destino curioso transformou durante doze anos no expoente político, moral e religioso da Alemanha.



Oriana Curitiba, paulista, é advogada aposentada, devoradora de livros e torcedora do Palmeiras.


terça-feira

Yuka, Lula e a contragosto, Machado.

Antonio Fernando Borges - Deu no JB: cerca de 1.500 pessoas (artistas, intelectuais e assemelhados) reuniram-se no Canecão, na última segunda-feira, para lançar um documento com as diretrizes das políticas culturais a serem adotadas pelo futuro governo petista. Assustador por princípio – dada a natureza totalitária inerente à proposta –, o encontro ganhou um tempero ainda mais patético graças à intervenção do baterista Marcelo Yuka, do grupo Rappa.



Paraplégico, preso a uma cadeira de rodas, depois de ter sido baleado por assaltantes há cerca de dois anos, Yuka deu a prova viva de que nem sempre o sofrimento constitui um caminho garantido para a sabedoria. Diante de uma platéia unanimista, sedenta de ouvir clichês e palavras de ordem anticapitalistas, Yuka deu sua absurda contribuição àquela pajelança, ao dizer que quem puxou o gatilho da arma, naquele dia fatal, foi a desigualdade econômica “que produz tanta miséria e injustiça” no Brasil. Lula (deu no JB) chorou.



Muito se poderia escrever a respeito da estúpida afirmação – em particular, sobre as seqüelas morais das idéias que o marxismo e a sociologia em geral colocaram à disposição dos homens: desde a das classes sociais de Marx-Lênin à do inconsciente freudiano, passando pelos jogos de linguagem de Wittgenstein, teorias inteiras permitem ao “homem coletivista contemporâneo” tirar de seus ombros a responsabilidade pelos próprios atos – passando a atribuí-los a entidades abstratas como “a desigualdade econômica” de que fala Yuka. Pouco importa que, para isso, o homem coletivista precise abrir mão de seu livre arbítrio.



Haveria muito o que dizer sobre a frase do baterista, e o choro do candidato, que aos poucos parece ir tomando posse antes mesmo do segundo turno. Mas, vendo sua arrogância indisfarçável, seu ego desmesuradamente inflado, seu discurso de reformador do mundo, só uma idéia me ocorreu: “Meu Deus! Foi este o homem que há pouco tempo se comparou... a Machado de Assis!”



Será que ambos (o baterista e o candidato) sabem que, justamente por descrer da política, e das teorias sociólogicas, Machado de Assis jamais de valeu da pobreza como álibi – nem para si, nem para qualquer de seus personagens? Basta reparar, por exemplo, como a origem pobre da personagem-título de Helena não a redime dos pecados da ambição e do arrivismo. Machado não move a pena, por uma linha que seja, para lhe atenuar as faltas: a morte de Helena, ao fim do romance, é a única redenção cabível.



O imperativo moral se repete em A Mão e a Luva, na vaidade cobiçosa da moça Guiomar – e também, de resto, em inúmeros de seus contos. Nenhuma limitação, de raça ou classe social, serviu a Machado de pretexto para o afastar de seus planos, legítimos, de vencer na vida e construir uma obra digna da imortalidade que afinal atingiu. O fracasso parece jamais ter entrado nas cogitações deste obstinado, de férrea disciplina. Mas imagino que, sabe-se que, se ele acaso ocorresse, certamente não seria aplacado por justificativas externas e mesquinhas.



Indiferente à política e suas miudezas, Machado era uma individualidade à espreita, entre os homens mundanos e desatentos. Tentar compará-lo a um “intelectual orgânico” oriundo do povo – e que faz da origem modesta uma desculpa inconsistente para sua preguiça intelectual – parece mais do que um erro de compreensão: é um reducionismo invejoso e compensatório, nestes tempos incapazes de produzir – ou mesmo de suportar – semelhante grandeza.


Careca evoca Eliseu

Nota do Editor - Janer Cristaldo é o maior jornalista em atividade deste país. Se repórteres e editores tivessem 10% do seu conhecimento, a imprensa brasileira talvez não fosse a tragédia que é. Este pequeno artigo foi feito especialmente para esta página mas quem quiser acompanhá-lo melhor pode ler seus escritos em www.baguete.com.br.



Janer Cristaldo, especial para o OFFMIDIA - A Bíblia parece estar na ordem do dia neste período eleitoral. Como os
evangélicos constituem uma importante fatia de votos, de repente até o Cristo virou cabo eleitoral. Para começar, Lula, em um acesso de modéstia, comparou-se ao próprio. Para quem acena com um aumento de até 50 % no IR, a comparação pode ser funesta. Cristo foi crucificado por hesitar ante uma questão de direito tributário.



Não bastasse comparar-se ao Cristo, prometeu introduzir a leitura diária daBíblia nas escolas. O Ocidente levou séculos para separar o Estado da Igreja e o novel estadista, para agradar uma clientela de crentes, promete um a volta às trevas. Seja como for, a Bíblia tem momentos edificantes. Por exemplo, quando Josué aprisiona os filhos e as filhas de Acam e os apedreja até a morte.



Ou quando o levita de Efraim pega um cutelo, corta sua concubina em doze pedaços e os remete a todo território de Israel. Quando o sábio rei Davi, antes do último suspiro, manda o filho Salomão trazer a cabeça de Shimei para o túmulo com sangue. Só então consegue morrer em paz. Ou quando Ester faz com que Haman e seus dez filhos fossem enforcados na forca construída por Haman. Os judeus foram então autorizados a assassinar mais de 75 mil súditos do rei. E por aí vai.



José Serra, por sua vez, numa tentativa de bajular eleitores, resolveu evocar Eliseu. Em um encontro com os evangélicos, o calvo candidato não se absteve de citar o profeta calvo, quando este purificou uma fonte em Jericó, jogando um punhado de sal em suas águas. Ocorre que Eliseu é um dos mais sanguinários profetas do Livro. Quando moleques o chamam de careca em Bethel, Eliseu os amaldiçoa em nome do Senhor. Duas ursas saem do mato e devoram 42 crianças. Perdoai-os, Senhor! Eles não sabem o que dizem.


Globo e PT: Tudo a Ver


Alceu Garcia - Criticar o PT hoje em dia certamente não atrai popularidade e prosperidade para o crítico; desaprovar as Organizações Globo de um ponto de vista liberal, ou seja, de "direita", tampouco sinaliza um futuro promissor. Agora, denunciar a cada vez mais firme aliança entre o PT e a Globo só mesmo para quem gosta de viver perigosamente. De qualquer modo, a hora para denúncias e críticas é essa, pois nos próximos meses tais procedimentos tendem a se tornar extremamente perigosos para a saúde e patrimônio de quem o fizer. Então aproveitemos a ocasião.



A inspiração para o presente artigo decorreu da extrema irritação que me suscitou um programa sobre o neoconservadorismo americano na Globonews, canal de jornalismo da Globosat,. Não que o tema não mereça exame. Merece, e muito. Mas não pode haver seriedade na análise se os debatedores convocados são tendenciosos e mal-disfarçados simpatizantes do PT. O bom William Waack conversou com dois professores universitários e um editor do jornal Valor Econômico. Este último manteve a sobriedade, mas os outros dois limitaram-se a reproduzir a propaganda petista padrão dos intelectuais brasileiros. A "sapiência" dos universitários do Show do Milhão do Sílvio Santos certamente impressiona mais do que a de seus congêneres petistas. Crassa hipocrisia, por exemplo, os ataques desferidos à mistura de política e religião da direita americana vindo de quem faz a mesma coisa por aqui, pois é um segredo de polichinelo o vínculo orgânico entre os padres católicos da CNBB, o PT e o MST. Pura e lamentável desinformação.



O "Fantástico" de ontem deu grande destaque para a enésima campanha contra a fome organizada por ongs vinculadas ao PT, culminando com o emocionado canto do hino nacional pela militância presente no evento. Nesse momento, a câmara focalizou uma mulher com um visível adesivo da campanha de Lula na camisa. Coincidência? É claro que não. Nenhum partido ou doutrina política dispõe de tribunas diárias num grande jornal carioca para martelar a "linha justa" do momento na mente dos leitores, exceto o PT.



O que fazem Veríssimo, Tereza Cruvinel e Márcio Moreira Alves em O Globo, senão propaganda petista? A Revista Época, da Globo, defenestrou recentemente o filósofo Olavo de Carvalho, única voz dissonante do esquerdismo da publicação. O quadro de jornalistas do Valor Econômico, também da Globo, não faria feio na Tribuna Operária. O canal a cabo GNT, que até pouco tempo passava excelentes documentários, hoje é um reduto de insuportáveis pregações feministas, ecologistas etc. A progressiva "petização" das empresas de Roberto Marinho nos últimos anos é uma realidade que tende a se consolidar e ampliar. Por quê?



Um pouco de psicologia do empresário ajuda a entender um casamento aparentemente tão bizarro. Adam Smith já dizia há duzentos e tantos anos que o empresário dificilmente defenderá uma ordem social fundada na economia de mercado, visto que ele se preocupa antes de tudo com seus próprios negócios. Raramente ou nunca concentra-se no quadro geral em que vive e atua. Nada agrada mais esse pessoal do que um bom monopólio ou outra espécie de restrição à concorrência, e somente o Estado tem o poder de tornar a concorrência ilegal. Desse modo, os empresários tendem a apoiar qualquer governo que lhes retribua com regalias imorais. Era assim no mercantilismo, sistema que persiste entre nós até hoje.



Por outro lado, o Estado, por deter o monopólio da violência legal, é sempre uma ameaça potencial aos empreendedores. Uma licença cassada aqui, um alvará negado ali, uma razzia fiscal acolá e a empresa vê-se em perigo de morte. De forma que não é boa política comercial brigar com o governo, seja a padaria do Seu Manoel, seja a grande multinacional. As empresas tendem a manter as melhores relações possíveis com o governo, qualquer que seja ele, por puro medo de represálias se não forem gentis o suficiente com o Leviatã.



Ademais, o Estado como monopolista da segurança pública, pode muito bem suspendê-la a qualquer momento, como aconteceu no Rio Grande do Sul com o célebre "relógio dos 500 anos", destruído por uma turba petista sob os olhos complacentes da polícia. O temor de que um governo petista permita que hordas de vândalos teleguiados empastelem as caríssimas instalações do jornal do Roberto Marinho, ou destruam os monumentais estúdios do projac, com certeza é um fator a ser pesado na balança no momento de tomar decisões editoriais importantes.



O cenário considerado até aqui já permite vislumbrar algumas das razões da capitulação da Globo ao PT. Canais de TV, por exemplo, são concessões públicas que podem ser cassadas. Mas o Poder Judiciário não coíbe esse tipo de prática? Ora, o Judiciário é um poder desarmado, e de resto bastante infiltrado pelo petismo. No passado, o STF rendeu-se ao fogo pesado do governo federal, julgando constitucionais aberrações jurídicas como o Plano Cruzado, Plano Collor etc. Quem garante que nossos nobres magistrados se atreveriam a enfrentar a fúria petista em nome de algo tão relativo como princípios gerais de direito e justiça?



De outro ângulo, as empresas da família Marinho volta e meia sofrem problemas financeiros sérios, que podem ser amenizados por empréstimos a juros camaradas por bancos oficiais, como o Bndes. Mais um motivo para evitar a hostilidade de Lula e seus petistas.



Por fim, vale notar que os próprios mecanismos de mercado podem ser desvirtuados pela ingerência política. As organizações Globo estão sujeitas à soberania dos consumidores. Têm que oferecer o produto desejado por eles, ou a concorrência o fará. Sucede que quem lê jornais e revistas nesse país é em geral a parcela da população com educação universitária. E o que eles aprenderam nas universidades senão odiar o capitalismo e amar o socialismo? Imperativos de mercado, pois, acabam por impor aos empresários a contratação de intelectuais e escritores que odeiam o mercado, como Veríssimo e seus clones. Os consumidores querem essa porcaria, o que se vai fazer?



Ademais, o pessoal recrutado pela Globo para escrever suas novelas e séries, e para produzir e dirigir seus telejornais, também acaba sendo oriundo das panelinhas petistas nos meios universitários e artísticos. O círculo se fecha: petistas produzem a visão de mundo petista para consumidores petistas. Voilá! Exemplo desse processo é a recente série televisiva Cidade dos Homens, na qual cineastas picaretas esforçam-se por culpar o capitalismo pela miséria, pelo racismo etc. É de fato brilhante a estratégia gramsciana de voltar contra o mercado suas próprias forças e mecanismos.



O resultado é a tragédia que estamos vendo. Roberto Marinho no papel de propagandista e militante honorário do PT. Até quando? Não adianta esperar resistência efetiva ao petismo das Organizações Globo. Ela não virá. A oposição a Lula terá que se virar sem o glamour global. Somente se e quando ficar evidente e iminente o naufrágio do barco petista é que a Globo o abandonará, como aliás já aconteceu com os militares e com Collor. Mas não há razão para pessimismo excessivo. O poder da televisão tem sido muito exagerado. A resistência ao totalitarismo ganhará força mais cedo ou mais tarde e o projeto socialista do PT há de ser derrotado pelo povo. Com ou sem a Rede Globo.


segunda-feira

Pra vida toda Pravda

Igor Taam - Estreou há quatro dias (dia 17) a versão brasileira oficial do Pravda on-line. O jornal oficial das ditaduras comunistas da U.R.S.S. já contava com uma versão em língua portuguesa, mesmo assim a versão tupiniquim promete. A recente filial virtual conta, por enquanto, com apenas algumas notícias sobre a Rússia, seu governo, constituição, como obter visto, sua história – curiosamente só se limita a comentá-la do séc. XII ao séc. XIX. Sobre o séc. XX, o jornal somente fala que os recursos materiais e financeiros do país foram exauridos na Grande Guerra de 1914-1918, e só. O endereço do site oficial brasileiro é http://port.pravda.ru/brasil/.



Podíamos ler no Pravda de 1918, por exemplo, coisas como “As cidades devem ser impecavelmente limpas de toda putrefação burguesa .... O hino da classe operária será um canto de ódio e de vingança! ”. Talvez algum folião da esquerda festiva deboche e diga que o comunismo é coisa do passado e que atualmente o jornal deve ter mudado, amadureceu. Ledo engano. Para se ter uma idéia das posições atuais do jornal, logo no canto esquerdo superior da página pode-se ver ícones de Lênin e da antiga União Soviética.



Neste jornal encontramos desde citações de Márcio Moreira Alves até congratulações ao ditador Fidel Castro. Timothy Bancroft-Hinchey, diretor de redação da versão portuguesa, respondendo a um leitor, não tem o menor embaraço ao afirmar que “ a URSS foi um sucesso brilhante ”, e “ quanto aos incidentes no Muro de Berlim (...) houve leis publicadas nos documentos próprios naquele país, que proibiram o atravessamento de certas zonas, sob a pena de morte. Os que transgrediram, sabiam ou deveriam ter sabido, as conseqüências das suas acções ”. Sua ideologia de sempre e o fato de a palavra pravda significar verdade só faz reforçar o cinismo do jornal.



Em âmbito internacional, o Pravda já vem enaltecendo a candidatura de Lula abertamente. Em um de seus artigos, Marcia Miranda vai ao delírio: “Chega a vez do Lula. Chega a vez do Brasil. Chega a vez do nobre Povo brasileiro sonhar outra vez ”. Pois sim, eu nem me surpreendo mais que os outros órgãos da imprensa nacional, verdadeiros pravdinhas, ignorem e desdenhem este apoio entusiástico ao candidato petista, talvez até achem bom. Mas alguém pode me explicar que diabos de coincidência é esta, de um Pravda oficial surgir no Brasil exatamente agora?


Princípio da Precaução – 2

“A falsa ciência não aumenta o nosso saber, agrava a nossa ignorância.”
Marquês de Maricá



Robson Caetano - O Princípio da Precaução tem como objetivo melhorar a vida do consumidor e cuidar da proteção ambiental? Ou ele tem como objetivo opor-se à tecnologia e preservar um estilo de vida baseado em algum ideal de comunhão com a natureza?



Se uma inovação tecnológica pode ter efeitos no meio ambiente desconhecidos, então, ela não deve ser permitida. Se uma substância química pode estar causando algum dano, então,ela deve ser controlada ou eliminada. Se uma determinada ação pode estar causando dano a uma espécie que pode estar ameaçada, então, ela não deve ser permitida.



O Princípio da Precaução apela para as noções do senso comum de segurança, mas a sua aplicação não produzirá um mundo mais seguro ou mais limpo. Na verdade, o oposto acontece, pois a incorporação do Princípio nas regras relativas ao meio ambiente, saúde e segurança é, em si mesma, uma ameaça à proteção ambiental e à defesa da saúde pública.



O Princípio incorpora as seguintes premissas:


* O ser humano tem medo do que é desconhecido, do que está fora de seu controle e que, ao mesmo tempo, não oferece perigo imediato e concreto.


* O ser humano não teme o que está a sua vista e que pode tocar, mesmo que os riscos envolvidos sejam potencialmente elevados.



Assim, de acordo com a primeira premissa, tememos a energia nuclear, o aquecimento global, o fim das espécies de animais, etc, mas, não temos o menor receio de manusear uma serra elétrica ou de dirigir a 120 km/h, por exemplo, que são atividades cujos riscos são tremendos e concretos.



No final dos anos 80 do século passado, uma das campanhas do movimento ambientalista tinha como objetivo livrar a sociedade dos compostos de cloração da água, mesmo aquela recebida nas torneiras de casa e que serviria, em última análise, para beber. Os ambientalistas fizeram lobby junto às autoridades ligadas ao assunto do fornecimento de água em todo o mundo, tentando convencê-las que subprodutos da cloração da água para ingestão humana traziam um risco cancerígeno em potencial. O governo peruano percebeu que esta seria uma ótima forma de economizar dinheiro e suspendeu a cloração da água da maior parte da água fornecida a sua população, sob os aplausos da organização Greenpeace. O Greenpeace atingiu seu objetivo, mas 1.300.000 (um milhão e trezentas mil) pessoas contraíram cólera e pelo menos 11.000 (onze mil) pessoas morreram no que foi uma das maiores epidemias de cólera na América Latina – todo esse sofrimento para salvar um punhado de casos puramente especulativos de câncer.



Os exemplos dos resultados do banimento do DDT e da suspensão da cloração de água ressaltam o quão ridículo – de fato, o quão perigoso - que é caçar todos os pequenos riscos a ponto de distrair a atenção dos consumidores e dos legisladores das ameaças maiores e realmente comprovadas, desviando os recursos públicos para a saúde dos verdadeiros e grandes riscos, ignorando o fato de novas regras e restrições podem, na verdade, nos expor a mais riscos.



Se nos importamos verdadeiramente em tornar nosso mundo mais seguro, devemos exigir reguladores que levem em consideração tanto o risco dos afobados impetuosos na direção do futuro, quanto o risco de permanecer muito tempo no passado. Até que se consiga isso, os adeptos do Princípio da Precaução podem chegar a conclusões com base em uma simples definição que evite aplicação arbitrária e podem induzir que reformas legais sejam feitas com base em decisões equivocadas. É altamente aconselhável sermos prudentes com relação ao risco potencial do excesso de regras. Devemos rejeitá-las.



Fontes:



Conko, Gregory - The Precautionary Principle: Protectionism and Environmental Extremism by Other Means– www.cei.org/gencon/027,03079.cfm
June 20, 2002



Adler, Jonathan H. – Dangerous Precaution – The precautionary principle’s challenge to progress – www.nationalreview.com/adler/adler091302.asp


domingo

Jornal do Brasil: Democracia de poucos para muitos

João Pedro Jacques - Quando penso numa imagem para representar a democracia brasileira, no estado em que ela se encontra hoje, imagino um móvel de desenho pretensioso - aqueles de gosto meio duvidoso - e recoberto por um verniz reluzente; inteiro por fora e totalmente carcomido por cupins por dentro.



O Jornal do Brasil publicou um editorial na segunda-feira, dia 14 de outubro, intitulado “Cláusula de Barreira - Adeus aos Pequenos”. Este texto dá as boas-vindas à Cláusula de Barreira, presente na atual Lei dos Partidos Políticos, que tornará praticamente inviável a existência dos pequenos partidos, além do que desestimulará a criação de novos.



O editorial sentencia: “As tendências existentes na sociedade não precisam de três dezenas de partidos para se fazerem representar”. Eu penso, o que o Jornal do Brasil pensa que é, para saber de quantos partidos necessita a sociedade brasileira?



A política brasileira dispõe de diversos pregadores de uma espécie de “enxugamento democrático”. Um dos mentores desta nova era da república, foi o já falecido ministro das comunicações Sérgio Mota. Nos tempos do primeiro mandato de FHC, Serjão vislumbrou, juntamente com a concepção da idéia de “tucanato”, um bipartidarismo à brasileira. Os principais protagonistas deste cenário seriam o PSDB, é lógico, e o PT - para quem duvida desta hipótese, o segundo turno está aí.



Existem algumas inspirações por trás deste projeto de “enxugamento”. Uma faz alusão à mais antiga democracia moderna do globo, a dos Estados Unidos. Lá, o panorama político circula em torno do binômio Republicano e Democrata. Outro motivador, como aquele descrito pelo JB, é a busca pela racionalização do processo representativo.



É curioso ver como, em determinados momentos, a memória da imprensa pode ser seletiva. O bipartidarismo dos EUA não é forçado goela abaixo da população através de leis federais. De fato, lá não há um limite para o número de partidos, além do que, até mesmo um cidadão comum pode se candidatar a presidente da república, sem pertencer a partido algum!



Também é suspeita a tese de se “racionalizar o processo representativo”. As leis eleitorais brasileiras são bastante prolixas e pouco perenes. Do modo como estão definidas, é difícil administrar uma eleição com perto de 40 partidos, que têm direito a horário eleitoral “gratuito” - que é pago pelo contribuinte -, e que segue um calendário infeliz, que concentra de uma só vez a escolha de nomes para os cargos de presidente da república, senador, deputado federal, governador e deputado estadual.



Claramente o problema está nas leis que regulamentam as eleições, não na quantidade de partidos existentes. Quem quer limitar as possibilidades de representação do povo, na prática procura controlar seu comportamento político, evitando assim que possam ocorrer resultados que lhe sejam desfavoráveis. Muitos falam em democracia, mas de fato não querem a sociedade assim tão democrática.



Ao menos é acalentador saber que há analistas políticos sérios na imprensa, como é o caso da cientista política Lúcia Hipólito, que tem seus comentários transmitidos pela Rádio CBN, e que já alertou para os riscos da Cláusula de Barreira. Já não posso dizer o mesmo do Jornal do Brasil, pois este presume saber com quantos partidos se faz um regime democrático.