Globo e PT: Tudo a Ver
Alceu Garcia - Criticar o PT hoje em dia certamente não atrai popularidade e prosperidade para o crítico; desaprovar as Organizações Globo de um ponto de vista liberal, ou seja, de "direita", tampouco sinaliza um futuro promissor. Agora, denunciar a cada vez mais firme aliança entre o PT e a Globo só mesmo para quem gosta de viver perigosamente. De qualquer modo, a hora para denúncias e críticas é essa, pois nos próximos meses tais procedimentos tendem a se tornar extremamente perigosos para a saúde e patrimônio de quem o fizer. Então aproveitemos a ocasião.
A inspiração para o presente artigo decorreu da extrema irritação que me suscitou um programa sobre o neoconservadorismo americano na Globonews, canal de jornalismo da Globosat,. Não que o tema não mereça exame. Merece, e muito. Mas não pode haver seriedade na análise se os debatedores convocados são tendenciosos e mal-disfarçados simpatizantes do PT. O bom William Waack conversou com dois professores universitários e um editor do jornal Valor Econômico. Este último manteve a sobriedade, mas os outros dois limitaram-se a reproduzir a propaganda petista padrão dos intelectuais brasileiros. A "sapiência" dos universitários do Show do Milhão do Sílvio Santos certamente impressiona mais do que a de seus congêneres petistas. Crassa hipocrisia, por exemplo, os ataques desferidos à mistura de política e religião da direita americana vindo de quem faz a mesma coisa por aqui, pois é um segredo de polichinelo o vínculo orgânico entre os padres católicos da CNBB, o PT e o MST. Pura e lamentável desinformação.
O "Fantástico" de ontem deu grande destaque para a enésima campanha contra a fome organizada por ongs vinculadas ao PT, culminando com o emocionado canto do hino nacional pela militância presente no evento. Nesse momento, a câmara focalizou uma mulher com um visível adesivo da campanha de Lula na camisa. Coincidência? É claro que não. Nenhum partido ou doutrina política dispõe de tribunas diárias num grande jornal carioca para martelar a "linha justa" do momento na mente dos leitores, exceto o PT.
O que fazem Veríssimo, Tereza Cruvinel e Márcio Moreira Alves em O Globo, senão propaganda petista? A Revista Época, da Globo, defenestrou recentemente o filósofo Olavo de Carvalho, única voz dissonante do esquerdismo da publicação. O quadro de jornalistas do Valor Econômico, também da Globo, não faria feio na Tribuna Operária. O canal a cabo GNT, que até pouco tempo passava excelentes documentários, hoje é um reduto de insuportáveis pregações feministas, ecologistas etc. A progressiva "petização" das empresas de Roberto Marinho nos últimos anos é uma realidade que tende a se consolidar e ampliar. Por quê?
Um pouco de psicologia do empresário ajuda a entender um casamento aparentemente tão bizarro. Adam Smith já dizia há duzentos e tantos anos que o empresário dificilmente defenderá uma ordem social fundada na economia de mercado, visto que ele se preocupa antes de tudo com seus próprios negócios. Raramente ou nunca concentra-se no quadro geral em que vive e atua. Nada agrada mais esse pessoal do que um bom monopólio ou outra espécie de restrição à concorrência, e somente o Estado tem o poder de tornar a concorrência ilegal. Desse modo, os empresários tendem a apoiar qualquer governo que lhes retribua com regalias imorais. Era assim no mercantilismo, sistema que persiste entre nós até hoje.
Por outro lado, o Estado, por deter o monopólio da violência legal, é sempre uma ameaça potencial aos empreendedores. Uma licença cassada aqui, um alvará negado ali, uma razzia fiscal acolá e a empresa vê-se em perigo de morte. De forma que não é boa política comercial brigar com o governo, seja a padaria do Seu Manoel, seja a grande multinacional. As empresas tendem a manter as melhores relações possíveis com o governo, qualquer que seja ele, por puro medo de represálias se não forem gentis o suficiente com o Leviatã.
Ademais, o Estado como monopolista da segurança pública, pode muito bem suspendê-la a qualquer momento, como aconteceu no Rio Grande do Sul com o célebre "relógio dos 500 anos", destruído por uma turba petista sob os olhos complacentes da polícia. O temor de que um governo petista permita que hordas de vândalos teleguiados empastelem as caríssimas instalações do jornal do Roberto Marinho, ou destruam os monumentais estúdios do projac, com certeza é um fator a ser pesado na balança no momento de tomar decisões editoriais importantes.
O cenário considerado até aqui já permite vislumbrar algumas das razões da capitulação da Globo ao PT. Canais de TV, por exemplo, são concessões públicas que podem ser cassadas. Mas o Poder Judiciário não coíbe esse tipo de prática? Ora, o Judiciário é um poder desarmado, e de resto bastante infiltrado pelo petismo. No passado, o STF rendeu-se ao fogo pesado do governo federal, julgando constitucionais aberrações jurídicas como o Plano Cruzado, Plano Collor etc. Quem garante que nossos nobres magistrados se atreveriam a enfrentar a fúria petista em nome de algo tão relativo como princípios gerais de direito e justiça?
De outro ângulo, as empresas da família Marinho volta e meia sofrem problemas financeiros sérios, que podem ser amenizados por empréstimos a juros camaradas por bancos oficiais, como o Bndes. Mais um motivo para evitar a hostilidade de Lula e seus petistas.
Por fim, vale notar que os próprios mecanismos de mercado podem ser desvirtuados pela ingerência política. As organizações Globo estão sujeitas à soberania dos consumidores. Têm que oferecer o produto desejado por eles, ou a concorrência o fará. Sucede que quem lê jornais e revistas nesse país é em geral a parcela da população com educação universitária. E o que eles aprenderam nas universidades senão odiar o capitalismo e amar o socialismo? Imperativos de mercado, pois, acabam por impor aos empresários a contratação de intelectuais e escritores que odeiam o mercado, como Veríssimo e seus clones. Os consumidores querem essa porcaria, o que se vai fazer?
Ademais, o pessoal recrutado pela Globo para escrever suas novelas e séries, e para produzir e dirigir seus telejornais, também acaba sendo oriundo das panelinhas petistas nos meios universitários e artísticos. O círculo se fecha: petistas produzem a visão de mundo petista para consumidores petistas. Voilá! Exemplo desse processo é a recente série televisiva Cidade dos Homens, na qual cineastas picaretas esforçam-se por culpar o capitalismo pela miséria, pelo racismo etc. É de fato brilhante a estratégia gramsciana de voltar contra o mercado suas próprias forças e mecanismos.
O resultado é a tragédia que estamos vendo. Roberto Marinho no papel de propagandista e militante honorário do PT. Até quando? Não adianta esperar resistência efetiva ao petismo das Organizações Globo. Ela não virá. A oposição a Lula terá que se virar sem o glamour global. Somente se e quando ficar evidente e iminente o naufrágio do barco petista é que a Globo o abandonará, como aliás já aconteceu com os militares e com Collor. Mas não há razão para pessimismo excessivo. O poder da televisão tem sido muito exagerado. A resistência ao totalitarismo ganhará força mais cedo ou mais tarde e o projeto socialista do PT há de ser derrotado pelo povo. Com ou sem a Rede Globo.