Paulo Leite, de Washington DC - Vários motivos podem ser apontados como responsáveis pela vitória obtida por George W. Bush e o partido Republicano nas eleições de meio de mandato em 5 de novembro. Os analistas políticos de todas as tendências já gastaram milhões de litros de tinta discutindo esses motivos em jornais e revistas de todo o país e do resto do mundo. Mas um motivo pra lá de importante tem sido pouco analisado: a influência do rádio, mais especificamente do talk-radio, o segmento da mídia eletrônica que mais tem crescido em popularidade nos últimos tempos.
Há uns vinte anos, com os ouvintes todos se bandeando para o FM, o rádio AM norte-americano era visto como um paciente terminal, a caminho da extinção. Afinal, quem queria ouvir música numa estação com som ruim e cheio de estática? Algumas emissoras AM conseguiam manter-se em evidência dedicando-se ao jornalismo, mas uma boa emissora de notícias exige uma equipe razoavelmente grande e, por isso mesmo, cara. O ideal era encontrar uma forma de programação barata e atraente. Inicialmente usado como um fórum para a discussão de assuntos locais, o talk-radio, ou “rádio bate-papo”, que exigia pouco mais que um apresentador e algumas linhas telefônicas foi a solução.
Mas o que colocou o talk-radio em evidência foi a estréia nacional do programa de Rush Limbaugh. Apresentador de sucesso numa emissora de Sacramento, capital da Califórnia, Rush apostou num programa nacional em 1988. Tendo como tema a política e apresentando como novidade uma filosofia desavergonhadamente conservadora, Rush explodiu. Em poucos anos, seu programa passou a ser ouvido em todos os cantos dos Estados Unidos, tendo hoje em dia aproximadamente uns 20 milhões de ouvintes todos os dias. Mais importante, o sucesso de Rush Limbaugh abriu caminho para dezenas de outros apresentadores, em sua maioria conservadores. Os apresentadores liberais (a esquerda daqui) podem ser contados nos dedos de uma das mãos, e ainda vão sobrar dedos.
Shows como os de Sean Hannity, Glenn Beck, Michael Savage, Hugh Hewitt, Laura Ingraham e muitos outros são um oásis conservador em meio ao esquerdismo dominante nas emissoras noticiosas de rádio, TV aberta e TV a cabo (com exceção da Fox News, de tendência moderada/conservadora). Sua influência sobre o eleitorado não pode mais ser minimizada. Graças a esses programas, políticos, comentaristas e escritores conservadores encontram espaço para divulgar suas idéias. Os mitos e meias-verdades da esquerda são expostos, e as informações distorcidas pelo viés esquerdista da grande mídia são passadas a limpo.
A força do talk-radio não passou despercebida para o governo americano. Algumas semanas antes das eleições, Bush convidou apresentadores locais e nacionais para transmitirem seus programas diretamente da Casa Branca. As “estrelas” do governo, como o vice-presidente Dick Cheney, o secretário Colin Powell, a assessora Condoleezza Rice, o ministro da Justiça John Ashcroft e muitos outros puderam, sem grande esforço, participar de dezenas de programas num mesmo dia.
E só para confirmar a influência do talk-radio nas últimas eleições, a rede de TV NBC convidou para comentar a chamada “marcha das apurações” na noite do dia 5, ninguém mais, ninguém menos que... Rush Limbaugh.