sábado

Roda Viva: Só mais uma pergunta

João Pedro Jacques - Na noite de segunda-feira, dia 28 de outubro, foi exibida mais uma edição do conhecido semanário de entrevistas Roda Viva, produzido pela TV Cultura de São Paulo e retransmitido para o resto do Brasil pelos canais estatais. O convidado desta semana foi o presidente nacional do PT e deputado federal José Dirceu, que de certa maneira apresentou-se na condição de porta-voz informal do futuro governo de Lula.



Para o Sr. Dirceu o ambiente foi bastante acolhedor, afinal, o companheiro petista número um estava no meio de uma roda de jornalistas brasileiros. Durante a entrevista ainda prevaleceu o tom de campanha. As indagações dirigidas a ele pelos convidados apenas levantavam temas, sobre os quais o senhor deputado podia discursar à vontade, como que explanando o projeto de governo do PT para o próximo mandato. Foram pouquíssimos os momentos em que o Sr. Dirceu teve que se confrontar com perguntas concretas, onde foram apontados fatos que requerem coerência lógica nas respostas.



Para mim não interessam os pormenores da fatídica retórica petista, pois é dever do indivíduo criterioso saber distingüir a propaganda esquerdista das atitudes práticas de governos de esquerda. Desta forma, quase tudo que foi dito durante aproximadamente 90 minutos de programa não despertou minha atenção. Entretanto, algo que não foi falado o fez.



Em determinado momento da entrevista o Sr. José Dirceu afirmou que o futuro governo federal do PT não vai “implantar o socialismo no Brasil”. Esta é uma sentença muito enigmática. No entanto, ela não foi capaz de estimular a química cerebral dos distintos senhores convidados.



O PT, em recente reunião nacional, reafirmou sua posição como partido de ideologia socialista. Imagino que este fato seja de conhecimento de jornalistas gabaritados para entrevistar o deputado José Dirceu. Todos que já dedicaram mais do que alguns minutos de seu tempo ao estudo do socialismo sabem que este reclama necessariamente desdobramentos no plano concreto. A ideologia socialista como mera ferramenta teórica não possui sentido algum. A implantação do regime socialista é a última etapa de um radical projeto de engenharia social, que começa como tese e termina nas ruas. É para este fim que trabalham os socialistas.



Visto isto, faço aqui a pergunta que, ainda que pese seu dever, os jornalistas presentes na última edição do programa Roda Viva não fizeram ao Sr. Dirceu: Como pode o PT, a um só tempo, afirmar seu compromisso com o projeto socialista e não desejar implantá-lo no Brasil? Quanto mais agora que conquistou o mais alto cargo da nação?



Imagino que em breve saberemos a resposta.

Rádio CBN: O mercado político, segundo Lúcia Hippólito

João Pedro Jacques - Dias atrás fiz um elogio à Srª. Lúcia Hippólito, jornalista política da rádio CBN. Infelizmente, após a publicação no dia 25 de outubro, quinta-feira, do comentário intitulado “Tática do medo não é mais privilégio dos militares” (ouça em www.cbn.com.br), a cientista política demonstrou que por vezes lhe sobra política onde lhe falta ciência.



Neste texto, a Srª. Hippólito afirma que em épocas passadas “chantagens, vetos, recurso à assombrações variadas” entre outras coisas “eram privilégio dos militares”. Mas que durante o pleito presidencial deste ano viu-se emergir um novo e forte chantagista político, o “mercado”.



Segundo ela nos reporta, do mesmo modo que os militares fizeram no passado, hoje o “mercado” tenta controlar o processo político, desempenhando o papel de “vila militar”, através da “estratégia do medo”. Mas a comentarista política da CBN, em tom tranqüilizador, também assegura que “o mercado é muito forte, mas não pode tudo”, pois no dia 25 já era possível afirmar com bastante segurança que Lula venceria a disputa nas urnas.



Assim, ela termina seu texto com a recomendação de que “tavez fosse melhor que os homens do mercado estudassem a história daquele tempo [64]”, pois “chantagem só funciona quando o chantageado colabora. Desmascarada ela perde a eficácia”.



Isto não é ciência política. É política permeada por ideologia socialista, que propicia aos descuidados misturar alhos com bugalhos.



Uma característica marcante do pensamento da esquerda é enxergar o cosmos através da precária lente da política. Para os seguidores do esquerdismo todo objeto existe a partir de sua dimensão política e se não existe é por falta de “conscientização” ­ o termo mais correto deveria ser “doutrinação”.



Somado a isto, há a estigmatização do “mercado”. Todos falam a seu respeito, porém acredito que poucos saibam minimamente do que se trata. Anos de propaganda ideológica, explícita ou disfarçada, criaram uma mística em torno do mercado que tornou praticamente impossível a muitas pessoas entender e descrever este elemento da sociedade de forma objetiva. Este aparenta ser algo exógeno ao nosso mundo, uma cruel imposição de “especuladores” a serviço da “exploração” ­ do trabalho pelo capital, como Karl Marx gostaria que fosse ­ e que, finalmente, objetiva unicamente tornar os ricos mais ricos, os pobres mais pobres e impedir a felicidade humana na Terra.



Logo, do ponto de vista esquerdista, as razões que movimentam o mercado, ­ que é de fato muito mais do que a Bovespa e o sistema bancário, ­ são político-ideológicas. E uma vez que o futuro governo petista gera expectativas negativas­ apoiadas em 20 anos de monólogo anticapitalista e desastradas administrações estaduais e municipais,­ estas têm fundamento político.



É desconcertante ouvir a Srª. Lúcia Hippólito proferir em público que a incerteza que o conjunto da população tem sobre a segurança de seus bens e negócios é na realidade chantagem contra a candidatura de Lula à presidente. Neste caso, acredito que esta declaração seja fruto da soma de ignorância com cegueira ideológica.



Deste modo, fica evidenciada uma das razões que leva alguém a falar em “terrorismo de mercado”. Este termo não foi diretamente empregado pela Srª. Hippólito em seu comentário, sendo, por conseguinte, o único elemento menos depreciativo a esta matéria.


sexta-feira

Lula, o Filho do Polvo


"Séculos transcorrerão e as futuras gerações de comunistas nos considerarão os mais felizes dos mortais que já habitaram este planeta em todas as eras, porque nós vimos Stalin, o líder genial, Stalin o Sábio, o sorridente, o gentil, o supremamente simples. Quando estive próximo de Stalin vibrei com sua força, seu magnetismo e sua grandeza. Eu queria cantar, gritar, uivar de felicidade e exaltação." Avdyenko, escritor soviético, circa 1938.



Alceu Garcia - A TV Globo superou todas as expectativas e provavelmente bateu o recorde mundial de bajulação política estabelecido na URSS, nos anos 30. Mais uma vez o mundo se curva diante do Brasil. E pela enésima vez a Globo se dobra ante o potentado da hora. O histórico e histérico servilismo global para com o PT atingiu grau máximo no "Jornal Nacional" de segunda-feira, quando o candidato petista, o Abraham Lincoln brasileiro, recebeu em pessoa, e sem nenhum constrangimento, doses cavalares de puxa-saquismo explícito.


Superou largamente aquele quadro do Faustão em que celebridades são exaltadas por amigos e familiares até se debulharem em lágrimas. O resto da imprensa não ficou muito atrás. Vale notar que, embora a adulação a Stalin exemplificada no trecho acima pareça mais rastejante, a verdade é que os soviéticos bajulavam o ditador georgiano em legítima defesa da vida, e nem assim garantiam imunidade ao Gulag. Já os nossos puxa-sacos exercem seu degradante mister livremente, sem necessidade do "incentivo" de uma polícia política impiedosa e vigilante. Pelo menos por enquanto.


A pantomina global já tinha atingido os píncaros no debate entre os candidatos na véspera da votação. Um vero picadeiro foi armado, com "cidadãos" amestrados prontos a venerar a cidadania e a democracia, para que Lula e Serra representassem seus papéis de falsos messias. Os palhaços do circo, claro, éramos todos nós, induzidos a acreditar que o Estado, causa imediata de todos os nossos males, pode redimir o país solucionando todos os problemas num passe de mágica. No ringue onde se enfrentavam os veteranos esquerdistas a inteligência e o bom senso eram brutalmente surrados.


O meu governo vai acabar com o narcotráfico, o meu vai liquidar as desigualdades sociais regionais e blábláblá. Ora, politizar tudo é reduzir todos os problemas de uma sociedade ao tacão da polícia. Se isso fosse bom, os países comunistas, onde até a produção de sabonetes e papel higiênico era da órbita política, seriam paraísos terrestres. Mas não eram. Não havia sabonetes e papel higiênicos nas lojas. Não havia nada. Enfim, mundus vult decipi. O mundo quer ser enganado. O que se vai fazer?


O júbilo triunfante dos intelectuais com a consagração de um "filho do povo", como Lula foi qualificado por um eminente cacique da tribo, bem que merecia um minucioso estudo sociológico, não fossem todos os sociólogos pajés da taba petista (exceto a heróica dissidente Maria Lucia Victor Barbosa). Eles insistem na patranha de que o Carlos Magno tupiniquim é um produto das "forças populares" em ação.


Será que de tanto apregoar essa ficção a casta letrada acabou acreditando na própria mentira? Não há nada de "popular" em Lula e no PT, não no sentido marxistóide que eles mesmos atribuem a esse adjetivo. Tanto o candidato quanto o partido são filhos mimados de uma poderosa e obstinada elite: a nata letrada militante.


É curioso que essa gente não tenha se identificado com Fernando Henrique, que é, sempre foi e sempre será, um antigo e ilustre sócio do clube. Talvez essa rejeição seja fruto do ciúme, ou, mais provavelmente, de uma psicose ideológica. Os intelectuais, malgrado já estivessem no poder de fato e de direito com FHC, necessitavam da imagem de um "proletário" no cargo máximo para satisfazer suas taras doutrinárias. Somente com essa satisfação no campo simbólico eles se sentem efetivamente legitimados: um filho do povo no poder!


De qualquer modo, Fernando Henrique suportou estoicamente a ira invejosa dos colegas e, sem nenhum ressentimento, fez tudo o que pôde para facilitar a ascensão do Machado de Assis da política nacional, implodindo a aliança que o sustentou, dinamitando as candidaturas alternativas viáveis (Itamar, Roseana, Ciro – não que fossem grande coisa) e enfiando um candidato impopular e insosso pela goela de seu próprio partido.


O meu amigo Pedro Paulo Rocha já tinha cantado a pedra há muito tempo: o candidato de FH era o Mandela brasileiro; Serra foi escolhido a dedo como escada para a estrela maior do espetáculo.


A farsa do "filho do povo", contudo, é evidente para as – raras – cabeças pensantes que se disponham a examinar a coisa mais de perto. Faz muito, muito tempo que Lula deixou o campo dos oprimidos, os pagadores de impostos, para ingressar no rol seleto dos opressores, os consumidores de impostos.


O amado líder petista celebrou um pacto com o diabo quando virou sindicalista, o que equivale a aceitar todas as regalias corporativas outorgadas por uma legislação imoral que Getúlio Vargas copiou ipsis litteris do modelo concebido por Benito Mussolini, mantida por militares e civis desde então. Chefe de sindicato recebe sem trabalhar e não pode ser demitido. As decantadas greves de metalúrgicos "contra a ditadura militar" nunca foram outra coisa senão coação e violência de assalariados sindicalizados, protegidos pelo manto estatal, em face de outros assalariados desprivilegiados.


A greve em si não é uma conduta injusta, pois condizente com o direito de propriedade dos empregados sobre sua própria força de trabalho. Deixa de ser legítima, entretanto, quando descamba em violação do direito de propriedade dos empregadores sobre suas instalações e ferramentas, frequentemente ocupadas e depredadas, do direito daqueles que não querem participar do movimento (a detestada figura do "fura-greve") e do direito de outros assalariados de aceitarem trabalhar nas condições recusadas pelos grevistas.


Lula ganhou ainda mais destaque na classe parasitária quando se deixou fazer de griffe proletária do PT, partido autodenominado dos "trabalhadores", que, porém, sempre representou os interesses dos intelectuais. Em troca, foi promovido de carreirista sindical a político profissional, muito bem pago para não fazer nada de produtivo.


Hoje, rico e gordo, poderoso e paparicado, está realizado. Mas não é um "filho do povo" que se prepara para pagar com milhares de sinecuras à intelectuária que o conduziu ao poder; Lula é filho dileto do polvo estatal, que, com seus tentáculos viscosos, distribui privilégios vergonhosos à nomenklatura e aloca sacrifícios inomináveis ao resto.


Os basbaques de costume proclamaram como manifestação de grande sabedoria a advertência do presidente eleito ao "mercado": respeitarei os contratos, mas os brasileiros precisam comer três vezes ao dia. Fica até chato lembrar pela milionésima vez que é graças ao tal mercado que existe comida para tanta gente. Onde o mercado é proscrito é que falta alimento e milhões já morreram por isso, lá nos países comunistas. E esse pessoal, oriundo das mais variadas seitas comunistas, ousa imputar ao "mercado", implícita ou explicitamente, a fome. Que caras-de-pau.


Frédéric Bastiat escreveu certa vez sobre o milagre que se renovava diariamente na Paris de seu tempo. Um milhão de pessoas, que não produziam alimentos, comiam todos os dias sem que fosse preciso qualquer planejamento estatal para que os comestíveis fossem produzidos, transportados, distribuídos e vendidos no comércio parisiense.


O mesmo acontece no Brasil com seus cento e setenta milhões de habitantes, malgrado o Estado faça tudo a seu alcance para obstruir o funcionamento dos mercados. Não há nenhuma necessidade do orwelliano Ministério da Fome, ou coisa parecida, proposto pelos petistas. Basta que, por exemplo, sejam podados os privilégios nababescos dos aposentados e pensionistas do setor público, cujos benefícios superam tanto o custeio que, para cobrir o rombo, o Estado subtrai anualmente dos contribuintes quase cinquenta bilhões de reais.


Ou seja, tem gente comendo demais à custa de quem está comendo de menos. Mas, que incrível coincidência, esses comilões são justamente os mais aguerridos e fiéis petistas. Dá para acreditar que esses lambazes vão acabar com a fome instituindo a trilionésima repartição burocrática do país?


Diz o PT que criará dez milhões de empregos. Ora, não haveria desemprego e subemprego em tão trágicas magnitudes se o Estado não despejasse toneladas de obrigações fiscais e "sociais" em quem se anima a contratar mão-de-obra. Mas ai de quem ousar sequer sugerir a revogação parcial dos "direitos dos trabalhadores".


O PT lança imediatamente sobre o herético seus pit-bulls retóricos encastelados nos sindicatos, na imprensa e nas universidades. Moral da história: é justamente quem afirma demagogicamente que tirará milhões de empregos de uma cartola mágica um dos principais culpados pela existência de desocupados involuntários. Seria kafkiano se não fosse orwelliano.


O fato é que agora é Lula. E agora, Lula? É cedo para previsões razoáveis, mas eu particularmente não creio que o companheiro presidente tenha o estofo de um Robespierre, Lênin, ou Hitler. Falta-lhe aquela vontade de poder férrea, a fé incoercível numa abstração demoníaca, que levou gente como os ditadores citados a cortar tantas cabeças quanto fosse necessário para alcançar seus propósitos. Lula é essencialmente um oportunista que agarrou a chance oferecida pela intelectuária de subir na vida sem fazer força.


Por isso mesmo é possível que ele tenda a agrupar à sua volta pessoas de inclinações similares. O verdadeiro perigo está nos homens de batina. Estes, sim, são capazes de derramar rios de sangue. Os padres da CNBB, que controlam a milícia do MST, representam o mais feroz comunismo que se pode imaginar. A Igreja brasileira convertida ao marxismo é absolutamente intransigente e não é impossível que empreenda uma guerra civil por conta própria, à revelia do próprio PT. O rumo do futuro governo está, pois, nas mãos dos mentores do Lula, velhos e experientes militantes como José Dirceu e José Genoíno. O que não é nada animador.


De sorte que, a meu ver, desenham-se cinco cenários alternativos para os próximos anos. No cenário Tony Blair-Felipe Gonzalez, o mais improvável de todos, o PT abre mão, na maior parte, do socialismo econômico clássico, contentando-se com o socialismo comportamental da moda, conhecido como "politicamente correto". Em segundo lugar, a opção Miterrand, marcada por medidas socialistas iniciais na economia depois abandonadas face ao seu evidente e clamoroso insucesso, o que leva o partido a romper com sua ala radical.


Outra alternativa seria a Allende-Chávez, com o governo confrontando abertamente e procurando destruir gradualmente toda oposição para afinal instituir um regime totalitário. A opção Thecoslováquia-1948, cujo traço fundamental seria a firme hegemonia petista sobre todas as instituições relevantes, sobretudo as Forças Armadas, como condição para um rápido e indolor golpe de estado, tampouco pode ser descartada. O último cenário pode ser denominado Espanha-1936, caracterizado pela ação violenta descontrolada das alas radicais do partido suscitando resistência armada e culminando em guerra civil. Eu aposto em uma mescla do primeiro, segundo e terceiro cenários. Logo saberemos que bicho dará.


quinta-feira

A melhor homenagem

Antonio Fernando Borges - O silêncio foi, sem dúvida, a melhor homenagem que o novel imortal Paulo Coelho prestou ao saudoso Roberto Campos, ocupante anterior da cadeira que o dublê de best-seller e mago assume agora na Academia Brasileira de Letras. Quebrando a regra imposta aos neo-empossados na Casa (o compromisso de discursar sobre seu antecessor), o autor de O Alquimista passou ao largo, ou por cima, da vida e da obra de Campos, preferindo falar de “magia” e “utopia” – assuntos, afinal, tão mais em moda.


O silêncio é um dos nomes de Deus, disse um dia, em página inspirada, o grande poeta místico espanhol San Juan de la Cruz. Ao optar por uma postura assim, tão lacônica quanto “silenciosa”, Paulo Coelho mostrou que sabe, como poucos, tirar o máximo proveito de cada aparição sua na mídia. Nesse sentido, tratou de deixar no ar mais uma de suas mensagens ambíguas, para ser traduzida de acordo com o gosto do freguês.



Muitos hão de ler, na sua omissão deliberada em torno do saudoso economista, a mensagem de que o reino de Paulo Coelho (como sói acontecer a um “mago”) não é mesmo deste mundo, e ele faz questão de não se ocupar de assuntos terrenos; só uns poucos, certamente, verão toda a malícia implícita nessa sua preocupação em agradar – como num “passe de mágica” – tanto a admiradores quanto a detratores de Roberto Campos. Esta talvez seja, aliás, a grande magia de Paulo Coelho: sua capacidade de anular e mascarar conflitos, em busca de uma unanimidade que já lhe rendeu, até agora, mais de 55 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.



Não há dúvida de que esse fenômeno de vendas é bastante revelador sobre nossa época, e não são poucos os que acusam seus best-sellers de falsificação literária – nem são poucos, aliás, os indignados que chegam ao extremo de sugerir (e até de reivindicar) que seus livros sejam proibidos... Como liberal convicto e democrata praticante, não me incluo entre estes últimos, por mais que desconheça em obras como O Diário de um Mago, Brida, etc. qualquer vestígio de mérito literário ou filosófico. O fato é que a verdade se revela muito pior: até prova em contrário, ninguém parece ter sido obrigado a comprar seus livros. E é isso, justamente, o mais alarmante sobre o espírito destes tempos – ou melhor, sobre a ausência do Espírito em nossa época.



Acusar Paulo Coelho de falsificação literária seria chover no molhado e, em termos de crítica ou denúncia, equivaleria a malhar um judas com data vencida, ou (para ficar na esfera dos lugares-comuns, tão a seu gosto) chutar um cachorro morto. Afinal, vender milhões de exemplares não constitui, per se, indício de boa ou má qualidade de um produto – fala, quando muito, de seu preço. E a literatura em questão é, indiscutivelmente, barata. Só isso.



Se existe contrafação no fenômeno Paulo Coelho, ela diz respeito, sobretudo, a seu suposto conteúdo “místico-filosófico” – que em verdade não passa de uma diluição barata de tradições religiosas elevadas, milenares, trazidas para o terreno da baixa espiritualidade de salão. Daí se poder dizer que seu pecado maior não é o de escrever mal (e nisso, por sinal, ele não está sozinho...), mas o de pretender ocupar um lugar que, por direito e tradição, pertence às grandes religiões reveladas.



Nestes tempos de opção pelos pobres e simpatia pelo demônio, quando a própria Igreja parece ter se afastado do Cristianismo, e uma parte significativa do clero já se prostra aos pés de santos diabólicos, como Marx e Che Guevara, e do falso deus Estado, o ingresso de Paulo Coelho na Academia ganha sintomáticos ares de uma canonização. A mesma atmosfera de que, na véspera, tinha sido investido o novo presidente eleito, Luís Inácio da Silva.



Para aqueles que preferirem ver nesta minha leitura algum sinal de exagero ou paranóia, a própria mídia já se encarregou de esclarecer:



“Com a vitória do Lula e a entrada de Paulo Coelho na Academia Brasileira de Letras, este país passa a ser a prova mais evidente de que a revolução é possível”, escreveu no JB o entusiasmado Gerald Thomas dois dias depois da posse (e três depois do segundo turno), reafirmando assim o caráter prometéico que une esses dois falsos profetas. O resto é silêncio.








quarta-feira

Empobrecimento Global

Robson Caetano - Cento e oitenta e cinco países e mais de 3000 delegados estão reunidos desde a semana passada na 8ª Conferência das Partes da Convenção do Clima para regulamentar a entrada em vigor, no ano que vem, do Protocolo de Kyoto, que prevê a redução de 5,2% dos gases do efeito estufa pelos países industrializados até 2012, para que se atinja os mesmos níveis de emissão de 1990. Segundo o Painel Intergovenamental de Mudança Climática da ONU, fomentado por ONG´s ambientalistas, a temperatura média global em 2100 estará entre 1,4 e 5,8 graus Celsius mais alto do que em 1990.



O pano de fundo da estória deste Protocolo é a Teoria do Aquecimento Global que surgiu no início dos anos 80 do século passado e que se tornou popular, com o apoio maciço da mídia, a ponto de obscurecer quase que totalmente a verdade científica dominante que reinava até então, que dizia que estávamos entrando em mais uma Idade do Gelo, dadas as evidências apresentadas e a característica cíclica previsível que a situa em nossa época. As evidências científicas que identificam esse novo ciclo frio são: secas, enchentes, chuvas torrenciais anormais e declínio da temperatura.



Paralelamente, estudos realizados na época mostravam o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera. Era o gancho que os ambientalistas precisavam. Assim, substituindo “declínio da temperatura” por “aumento da temperatura”, os ambientalistas concluíram, desta forma, que a temperatura média global estava aumentando, devido às atividades humanas no planeta. Eis a Teoria do Aquecimento Global.



A metodologia de análise de fatos e eventos dos grupos ambientalistas, que foi incrivelmente incorporada, inclusive, pela ONU, não utiliza as metodologias científicas tradicionais para a abordagem de problemas e de proposição de soluções. Seu método de análise consiste em ignorar totalmente os preceitos e estudos científicos e ter, como única base, a prerrogativa do pensamento de que o ser humano é destruidor por natureza e todos os males causados atualmente ao meio ambiente, em todos os níveis, são decorrentes do processo de industrialização promovido pelo sistema capitalista dos países mais ricos.



Suas soluções são sempre baseadas nesta prerrogativa e na utilização do Princípio de Precaução que diz que se algo pode causar mal, ele deve ser eliminado, proibido ou restringido. Pura e simplesmente. Ao menor indício. Como a análise do problema é feita única e exclusivamente através da sua própria visão do papel do homem e de seu capitalismo como agressores perpétuos do meio ambiente, não há análises que proporcionem soluções inteligentes que promovam o desenvolvimento concomitante do humano e do meio ambiente. Assim, freqüentemente, o homem está fora do âmbito de ação das soluções dos ambientalistas, apesar de parecer o contrário.



Na maioria das vezes, o que prevalece são seus ideais em detrimento do bem-estar humano. Análises de custos X benefícios de suas propostas não são feitas, assim como, a busca por alternativas, incorrendo, desta forma, em fatos como os que aconteceram no Peru, no fim dos anos 80 do século passado, onde 1.300.000 de pessoas contraíram cólera e mais de 11.000 morreram, simplesmente para que prevalecesse a sua idéia de que o os compostos usados na cloração da água para consumo humano eram cancerígenos, já que a suspeita havia recaído sobre esses componentes, em menos de 10 casos de câncer observados.



Os ambientalistas não avaliaram se a suspensão pura e simples da cloração da água seria mais danosa para o ser humano do que a sua continuidade. O que prevaleceu foi o seu ideal, que ocasionou mais de 11.000 mortos e o sofrimento de mais de 1.300.000 por causa de menos de 10 pessoas.



A Conferência que está acontecendo, neste momento, na Índia visa buscar a adesão do maior número possível de países ao Protocolo de Kyoto, que terá um custo de 5 trilhões de dólares e se coloca como única alternativa para salvar o planeta e o ser humano. Na tradução, isso significa reduzir a temperatura global de 2,1oC (dois graus e um décimo) para 1,9oC (um grau e nove décimos) até 2100, níveis de temperatura que seriam alcançados em 2094, dando, portanto, 6 anos de vantagem.



O Protocolo obriga, dentre outras coisas, os participantes a reduzir a emissão de gases pelos países ricos do efeito estufa e o financiamento de obras de prevenção aos efeitos da mudança climática dos países pobres.



A Comissão da ONU não patrocinou nenhum outro estudo para buscar alternativas ao Protocolo e muito menos analisou o impacto que estas decisões podem ter sobre a vida humana: o desemprego decorrente da redução da atividade industrial e do consumo, empobrecimento generalizado dos países, aumento do índice de miséria, o incremento da fome, doenças, etc.



Os 5 trilhões de dólares poderiam ser gastos de forma a não reduzir a atividade industrial, quando é uma quantia mais que suficiente para levar 10 vezes o saneamento básico a todos os habitantes da Terra, por exemplo, o que já teria um impacto dramático sobre o meio ambiente. Essa quantia poderia ser utilizada para a realização de estudos que incrementassem uma produção industrial “mais limpa” ou para a promoção da educação para os povos dos países menos favorecidos.



Dentre várias alternativas que poderiam ser consideradas, a ONU decidiu pela mais simples, porém, a mais nefasta delas todas: restringindo a atividade industrial e financiando países que não conseguem administrar seus recursos financeiros, a ONU está patrocinando não o fim do Aquecimento Global, mas o início do Empobrecimento Global.


NÃO ENTREM NO TERREIRO DE CAÊ

Eduardo Gomes de Castro - De um tempo para cá, vê-se grande alarde da classe dos músicos com relação à disseminação de CDs piratas, alarde este que fez o assunto tomar tal vulto que está no momento sob apreciação do Congresso Nacional.



A campanha contra a pirataria tem entre seus baluartes figurinhas carimbadas da música popular brasileira, tais como Caetano Veloso (sempre ele! ), Chico Buarque e Gilberto Gil, além de outros menos cotados. Nada há de errado em empenhar-se pelo que se considera seu por direito.



Porém, há que se considerar que estes mesmos artistas acima citados, são notórios ativistas de esquerda. Em nome da coerência fica uma pergunta - o camelô da esquina está cometendo crime mais grave do que o invasor de terras, que por várias vezes faz uso da violência?



Ora, evidentemente que se trata apenas da velha máxima: "pimenta nos olhos dos outros é refresco". Esses músicos, que em suas declarações nunca emitiram uma única frase em defesa da propriedade privada, agora fazem pose de indignação contra a pirataria .



Muito pelo contrário, não perdem a oportunidade de aparecer ao lado manifestando apoio sempre que um José Rainha é preso por invasão e acusação de assassinato. Com a pirataria é diferente, claro, entre o bolso e a "causa" fica-se com o primeiro.


REVOLUÇÃO E NIHILISMO

[Nihilismo: Visão de mundo que nega os fundamentos dos valores e crenças tradicionais e que considera a própria existência sem sentido e inútil. Doutrina que nega a existência de fundamento à verdade, principalmente à verdade moral, assegurando que as condições da organização social são tão ruins, que merecem ser destruídas, sem compromisso com nenhum programa de reconstrução]



Heitor De Paola - Hermann Rauschning, alto prócer nazista, íntimo colaborador, conselheiro e confidente do Führer, tendo chegado ao posto de Presidente do Senado da Cidade de Dantzig, ao perceber o rumo de terrorismo e chantagem internacional que o regime adotara, foge para o Ocidente e escreve The Revolution of Nihilism – A Warning to the West. O livro foi publicado na Europa logo após a anexação da Sudetenland, região da então Tchecoslováquia com população de origem predominantemente germânica, e em 1939 nos Estados Unidos. Imediatamente considerado pela imprensa o livro mais importante sobre o Nacional Socialismo depois de Mein Kampf, mostrou ser também profético.



Predisse o Pacto Germano-Soviético num momento em que a campanha anti-soviética pela imprensa oficial alemã estava no seu auge. O Ministro da Propaganda, Goebbels, vociferava pelo rádio e em artigos no Vöelkischer Beobachter, contra os comunistas como os maiores inimigos da Vaterland e da construção do nacional-socialismo. Predisse a invasão da Polônia e a anexação da Dinamarca como um Estado títere de Berlim.



Embora valorizado pela imprensa, os políticos, com exceção de Churchill, não lhe deram a devida importância, tão hipnotizados estavam pela Paz a qualquer preço, que os levava a aceitar as promessas do Führer de que ‘a Alemanha não tem outros interesses territoriais’. Movimentos pacifistas louvavam Hitler como dirigente pacífico e Churchill como um belicoso maldito. A cada nova conquista ‘sem interesses territoriais’ Chamberlain, Halifax e Daladier voltavam exultantes e otimistas dos encontros com o afável e simpático Herr Hitler.



O que ocorria é que os eternos pacifistas achavam, como ainda hoje, que podem apaziguar os tiranos com promessas e concessões, transformar pessoas essencialmente más e dispostas a matar até seus concidadãos, em “boa gente’’. Lênin foi claro ao dizer que os tolos liberais do Ocidente, são “inocentes úteis” para quem tem fins a esconder. Carl Thomas sugeriu recentemente, que poder-se-ia construir um Hall of Infamy com os líderes políticos, diplomáticos, religiosos, acadêmicos e intelectuais que tiveram fé em políticas de apaziguamento para impedir guerras, gerando conflitos ainda piores e mais sangrentos como resultado de sua credulidade ingênua.



As pessoas comuns não se dão conta em tempo, de que tais líderes - diferentemente daqueles líderes realistas que pretendem implementar políticas racionais - se sentem imbuídos de uma missão sagrada à qual submetem todos seus atos e pensamentos. Hitler declarou que sua vida mudou quando, aos doze anos de idade, assistiu pela primeira vez uma obra de Wagner, Lohengrin. Tornou-se um ardente admirador do mestre de Bayreuth desde então, chegando a afirmar que “quem quiser entender a Alemanha Nacional Socialista, deve conhecer Wagner”.



É sintomático que Hitler tenha resistido à pressão da cúpula nazista para banir a ópera Parsifal, uma obra de fundo profundamente religioso que trata da busca do Santo Graal e da Lança Sagrada, ou do Destino, usada para curar as feridas de Cristo, e com uma mensagem de renúncia cristã, compaixão e pacifismo. Aceitou a contragosto a proibição, pouco antes da guerra e da intensificação da campanha antimonástica, da qual a Irmandade do Santo Graal é uma alegoria.



Sua hesitação se deveu ao fato de considerar Parsifal um dos mais importantes heróis arianos do panteão wagneriano. Embora considerasse Der Ring des Nibelungen (O Anel dos Nibelungos) e seu herói Siegfried como a mais germânica das obras de Wagner, Parsifal sempre mereceu um destaque especial.



O Dr Walter Stein, místico austríaco, explicou que Hitler esteve, na juventude, envolvido com estudos de ocultismo e que ao se deparar pela primeira vez com a Lança do Destino (ou a lança que há séculos se acredita que seja esta relíquia), no Hofbergmusaeum, em Viena, foi tomado por violentas emoções e visões do destino glorioso que lhe estava reservado. No Mein Kampf ele disse que estes foram os anos mais importantes de sua vida, quando ele aprendeu tudo o que necessitava para liderar o povo alemão. Sentia-se Parsifal com a lança mágica que continha o sangue – não de Cristo – mas o puro sangue ariano que curaria todas as feridas da Vaterland. E que não eram poucas, depois da derrota na Grande Guerra e do Tratado de Versailles.



A isto se deve o fato de Hitler ter abandonado os estudos regulares e nunca ter mantido uma atividade profissional definida, levando a vida ora como flaneur, ora como pintor medíocre, ora como ativista político, vivendo, inexplicavelmente, de uma pensão de veterano de guerra certamente corroída pela brutal inflação do período ou às custas do Partido e de amigos, com todas as propriedades originadas em doações, como sua casa em Oberzalsberg.



Faz parte da construção da figura mítica a ausência de origem clara – o herói Parsifal surge do nada, sem saber quem é e de quem descende - o mistério sobre o sustento, e a aura de predestinado. O grande herói não necessita de conhecimento, basta a predestinação e a vontade que deve predominar sobre qualquer conhecimento objetivo. Neste domínio, a noção de verdade perde todo o sentido, pois esta está contida na vontade dominadora, geralmente uma afirmação simplista, de fácil apreensão por qualquer um, mesmo sem instrução. Esta falsa verdade suscita o fanatismo.


terça-feira

Perguntar não ofende!

Nota do Editor – Bater nos militares virou esporte para boa parte dos jornalistas brasileiros. Todos os dias é possível flagrá-los nas páginas dos principais jornais chutando um deles ou deturpando fatos e acontecimentos do regime nascido em 64. Ao reescrever a História recente do país, o esquerdismo reservou os piores lugares a essa gente que acabou, ironicamente, por garantir a liberdade dos dias de hoje.



A menos que alguém acredite que os opositores armados do regime queriam reinstalar aqui a democracia e não algo muito pior do que o governo militar dos generais que se revezavam no poder de quatro em quatro anos.



De vez em quando, entretanto, os lichados surgem para reparar erros e interpretações maldosas, a repugnante bobajada que circula na mídia através de reportagens, colunas e artigos sobre “o período negro” e “os anos de chumbo”.

Como exemplo, vejam carta enviada para a jornalista Miriam Leitão pelo sempre alerta general de divisão reformado Raymundo Negrão Torres, de Curitiba (PR). Leitão é adepta do tiro ao alvo militar. O problema dela é que erra muito. Vale a pena ler:




Dona Miriam



A senhora estragou seu belo artigo de hoje, 27 de outubro, com nove linhas mal escritas, em que parece ter esquecido as lições do Pastor – seu pai – que certamente a ensinou a não “levantar falso testemunho”, para deixar-se levar pela lembrança do outro pastor - o cachorro - com que quiseram amedrontá-la em seus tempos de ativista estudantil.



Ao mencionar a dificuldade na criação de empregos, a senhora afirmou: “É possível enfrentar esse desafio, mas não com fórmulas ultrapassadas utilizadas nos governos militares. Quem produziu o pleno emprego do começo dos anos 70, não conseguiria reproduzir o milagre agora. Não o repetiu nem nos anos 80, quando o mundo era mais simples”.



As fórmulas ultrapassadas, a que se refere, seriam um coerente planejamento macro-econômico, o equilíbrio orçamentário, a flexibilidade cambial, a responsabilidade fiscal, as reformas tributária, bancária, administrativa e agrária e o viés antiinflacionário e privatista, implantados pela dupla Bulhões-Campos e consagradas na Constituição de 1967?



Quais as facilidades que faziam o mundo mais simples no início dos anos 80? O segundo choque do petróleo que triplicou o preço do barril? Os juros internacionais que, de 5 e 6% em 1967, foram para 18/20% em 80/81? A crise mundial de pagamentos que fez todo o mundo correr para o FMI? O ajuste à crise do petróleo pelos países ricos que levou à depressão e ao aviltamento violento dos preços internacionais das chamadas “commodities” que, em sete anos, nos deram prejuízos de mais de 40 bilhões de dólares, na queda no valor de nossas exportações?



Aquelas fórmulas negligenciadas depois e a conjuntura internacional desfavorável deram os resultados que se conhece. Se não se lembrar, pergunte ao deputado Delfim Netto que ele lhe conta. Acho até que ele está passando a receita para o Lula, presidente eleito.


segunda-feira

Leia em NOTALATINA esta semana:

Notalatina traz duas notícias de Cuba, a primeira das quais, desmente informação divulgada ontem, de Havana para o jornal Estadão, de que as pessoas não são obrigadas a votar, nem sofrem qualquer penalidade se não quiserem cumprir com esse “dever cívico”. Apesar de não haver na Constituição cubana a obrigatoriedade do voto, os fiéis servos do senhor, os CDR, têm, entre outras funções, delatar aqueles que não atendem ao chamado. É por isso que o índice de abstenção é tão pequeno (essa do dia 20 teve 95% de votantes).



A segunda notícia, mostra que, além da doutrinação marxista ministrada nas escolas, crianças em idade pré-escolar, recebem aulas de tiro. Isso mesmo, tiro de fuzil, para adestrar os futuros guerrilheiros; será que isso não é uma prática criminosa?



http://notalatina.blogspot.com


O (pecado) Capital, canibalismo e lutas constantes

Igor Taam - Lênin já dizia que "a ditadura do proletariado é uma luta constante – sangrenta e sem sangue, violenta e pacífica, militar e econômica, educativa e administrativa contra as forças e as tradições" e que "A força do hábito de milhões e dezenas de milhões é uma força extremamente terrível" (Revista de Pekín, 28 de Fevereiro de 1975, página 8).



Isto mesmo, não só de FARC´s, MST´s, Tupac Amaru´s, e etc vivem os revolucionários de esquerda, existe a luta sem sangue, pacífica e "educativa", e como estamos carecas de ver, ela se dá nas academias, nas escolas, e na mídia – para se livrarem de uma incômoda "força do hábito", é necessário um trabalho que leva anos e anos a fio para firmar as bases de uma triunfante luta econômica e administrativa, triunfante no sentido, somente, da tomada do poder. Afinal de contas, um povo de tradições mais profundas não se deixaria levar por um discurso carregado de ateísmo (ou religiosidade fingida), de pseudocientificismo, de materialismo e infanticídio. É necessário imbecilizar pelo menos 65% de uma população que já é suficientemente frívola, e esvaziar os debates e as cabeças de 90% dos intelectuais com chavões, e frases feitas que não valem meia pataca.



Uma das conseqüências mais bizarras da implantação dos regimes comunistas é o chamado canibalismo. Não satisfeitos com a aniquilação dos inimigos de sua "luta", eles se devoram uns aos outros. Talvez possa dizer que isto já começou a se refletir em menor escala na nossa mídia, vide o caso "Romanée-conti". A mesma patrulha ideológica e letrada que engoliu Regina Duarte (personalidade mais do que esquerdista), não se inibiu e mostrou seus dentes ao velho aliado de redação, Elio Gaspari. Não basta ser de esquerda, agora é Lula. Noto isso, pois, seguindo o fluxo da História, o banquete sinistro só começaria, uma vez que os inimigos fossem dizimados.



Ao começarem a lamber os dedos com os aperitivos antropofágicos, antes mesmo de Lula ter chegado ao poder oficialmente, ficou evidente que já consideram seus opositores tão reduzidos, ao ponto de não mais saciar totalmente seu apetite engajado. Assim como sua "luta" é "constante", sua fome também o é.



O mais curioso é que as críticas canibalescas dirigidas ao jornalista Elio Gaspari mais comentadas foram as ironias de Veríssimo. E ironias à parte, não foi ele mesmo quem escreveu um famoso livro sobre a gula?






domingo

Nostalgia do Jânio

Bruno Moretzshon - Muito me incomoda esse predomínio da economia na política. Nessa campanha para presidente, os candidatos só fizeram falar disso. É número para cá e para lá, estatísticas daqui e de lá etc, etc. Isso aí tem sua importância, claro. O problema é que todos os outros aspectos da vida nacional sequer são mencionados. Onde ficam o aborto, a ação afirmativa (esta despertou alguma discussão, mas foi pouco. Todo mundo disse que era a favor e foi só) e o casamento homossexual? Tudo o que poderia ser explorado no campo moral foi esquecido.



(E o Foro de São Paulo? Este também não foi explorado e é talvez o ponto mais importante. Porém, deixo o assunto para um outro artigo.)



O leitor que não me entenda mal: não estou afirmando que o estado deva intervir na vida das pessoas de forma tão profunda que venha a ter influência na moral do povo. Não gosto de governo e, para dizer a verdade, tenho raiva de quem leva a política muito a sério. E digo mais: o homem( me recuso a acrescentar "ou mulher") que espera alguma coisa de governo é um covarde, um fraco.



Na verdade, o que me irrita nesse blá-blá-blá econômico é que isso mostra a verdadeira face do povo brasileiro. Nossa sociedade só pensa em dinheiro, só pensa naquilo. É dinheiro para o trabalhador, dinheiro para a classe média, dinheiro para o funcionário público, dinheiro para as universidades etc, etc... Para o brasileiro, todo problema real se resolve com Real. Daí a obsessão por economia.



O leitor já deve ter reparado: se há qualquer problema, é só mandar uma verba que tudo fica bonito. Até problemas culturais os caras pretendem resolver assim. Se nossos professores são ruins , população e governo seguem a velha cantilena: " vamos aumentar os salários dos pobrezinhos". Contudo, não me lembro de ter conhecido, em vinte anos de escola e faculdade, muitos professores com verdadeiro interesse em adquirir mais conhecimento para melhor ensinar. Vi muitos grevistas, no entanto.



É verdade: o dinheiro aqui entre nós é o Sumo Bem e a fortuna é a única meta .Todos aqueles que procuram algo além disso são automaticamente desprezados como idealistas. Se o cara exerce uma profissão que não o recompensa financeiramente mas que lhe dá prazer e, mais importante, lhe passa uma sensação de dever cumprido, ele é rapidamente posto na categoria dos sonhadores e , por que não? , dos idiotas.



Um amigo meu, por exemplo, teve a ousadia de dizer em público que gostava de literatura e que se sentiria satisfeito e realizado se pudesse um dia dizer-se um escritor. O sujeito disse que se esforçava para alcançar sua meta e que a remuneração era secundária. Logo chegou um fulano para ele e disse que seu sonho era muito bonitinho mas que, no mundo dos "adultos", o negócio mesmo era se garantir financeiramente.



Imagino que tal comentário tenha vindo junto com uma piscadela maliciosa e um tapinha nas costas, tudo isso com aquele ar paternal próprio de quem revela , delicadamente, a mais óbvia das verdades. Por isso é que o brasileiro, no dia 27, vai às urnas como se fosse escolher um síndico, um diretor de banco, ou coisa parecida.



Nos EUA, os debates sobre pena de morte pegam fogo e há um arranca-rabo dos diabos sobre o aborto. Se o governo quer entrar numa guerra, toda a imprensa se apressa em discutir a validade ou não de um esforço que pode resultar na morte de inocentes. Sem falar do desarmamento. Aqui é só grana.



Antigamente o povo se preocupava com a moral e, por conseguinte, havia debate moral na política. O Jânio Quadros, por exemplo, ganhou uma eleição do FHC pela simples razão de que este , segundo afirmou Jânio, não acreditava em Deus. O povo desprezou o ateu. Era um grito pela moral. Sem brincadeira, tenho nostalgia disso aí.