Milla Kette - Dia 6 de outubro passado, casualmente, assisti a entrevista do chefe do escritório do Estadão em Washington, Paulo Sotero, na C-Span. Eu já havia lido um texto dele sobre a carta que deputados Republicanos enviaram à Casa Branca, apreensivos com a possível eleição de Lula, que manifestou-se publicamente contra o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Ali, Sotero afirmou que “[a] carta reflete o alarme de Menges”, referindo-se ao texto “Blocking a New Axis of Evil” (http://www.washtimes.com/commentary/20020807-85262452.htm), escrito por dr. Constantine Menges, membro do, segundo ele, “arquiconservador” Hudson Institute. Para Sotero o mesmo não passa de baloney, o mesmo que idiotice, absurdo ou pior. Ele, no entanto, não explicou o porquê dessa afirmação. Perguntei a Sotero (em e-mail ainda não respondido), se o Hudson Institute fosse arquiliberal (esquerda aqui) a opinião de dr. Menges teria validade.
Dr. Menges, que recebeu o doutorado da Universidade de Columbia em Relações Internacionais, União Soviética e Alemanha, é expert em assuntos da America Latina. Ele possui uma longa história de trabalho: em 1961, auxiliava fugitivos da Berlim Oriental, quando o muro estava sendo construído; em 1963, trabalhou (como voluntário) pelo direito de voto para os negros no Mississipi; após a invasão soviética da Checoslováquia, em 1968, ele ajudou a resistência não-violenta. De 1990 a 2000, foi professor na George Washington University. Antes disso, serviu como Assistente Especial do Presidente para Assuntos de Segurança Nacional, na CIA como Agente Nacional de Inteligência. Esse é o currículo de alguém que, segundo Paulo Sotero, escreve… baloney.
Sotero relacionou os candidatos às eleições presidenciais (confessando que admirava Lula, mas ia votar em Serra), afirmando que eram todos de centristas a esquerdistas. Uma dúvida: centro da Extrema Esquerda é o que, heim? Ele afirmou que o voto é obrigatório no Brasil, mas esse “é um dia feliz, as pessoas gostam de votar. Eleição é sempre num Domingo, há muita alegria ligada às eleições no Brasil.” O entrevistador, surpreso com tanta alegria num ato obrigatório, perguntou como o sistema obrigatório controla os votantes.
Sotero enrolou-se um pouco, mencionou o Tribunal Eleitoral, uma penalidade muito pequena, dificuldade em obter documentos/benefícios do governo, enfim, coisa sem importância (no entanto, a Embaixada do Brasil em Washington me informou que após a 3a eleição, perde-se o direito de votar). Ele arrematou, afirmando que, numa “sociedade muito desigual”, é justo forçar (ele não usou essa palavra politicamente incorreta) as pessoas a votarem. Claro, ele não explicou que até a função de mesário é obrigatória --enquanto aqui é voluntária— chegando ao cúmulo de afirmar que obrigatoriedade deveria ser adotada pelos EUA, pois votar (forçado?!) “faz parte da Democracia”! Ele crê que o Brasil tem uma vantagem sobre os EUA, pois a eleição não é separada em Estados… (1)
Qualquer americano médio, que creia na liberdade que a Constituição faculta ao cidadão, jamais concordará que voto de cabresto é um ato justo, louvável, como insinuou Sotero; é impossível compreender uma justiça que te obriga a pagar 1 dólar que seja, deslocar-se a um Correio ou Cartório Eleitoral, em nome da equalização da sociedade! Onde fica direito do cidadão de não votar? Luiz Barros em texto no Estadão em 2000 (http://www.jt.estadao.com.br/editorias/02/08/17/artigos002.html), referiu-se ao nível de abstenção nas últimas eleições nos EUA (50%), e Sotero fez menção a isso, como um problema que seria solucionado com a obrigatoriedade do voto! Ele não compreende o conceito de deixar ao cidadão a decisão de votar ou não, pois no Brasil o Estado se outorga esse direito.
O entrevistador citou um artigo do NYT que versava sobre a preocupação internacional com a situação econômica no país e perguntou o que mudaria no Brasil com Lula. Sotero comentou que todos os candidatos haviam assinado um documento no qual comprometiam-se em manter a economia estável… Ele jurou de pés juntos que, tanto Lula quanto os outros candidatos honrariam a dívida do Brasil com o FMI. Segundo ele, Lula estará totalmente aberto à ALCA – muito provavelmente, depois que leu as pesquisas da CNBB. Num país com tanta “diferença social”, Sotero crê que Lula apela ao povo por ser “um homem do povo”, um trabalhador (?). Segundo ele, o PT “cotribuiu” para a Democracia, pois trouxe a presença de negros no governo e citou a Bendita como exemplo. O que ele esqueceu de creditar ao PT é a influência que o dono da Ilha-Presídio vai exercer no futuro do Brasil!
A entrevista dura 45 minutos e quem quiser assisti-la na íntegra, eis o link:
http://video.c-span.org:8080/ramgen/idrive/wj20021006.rm?start=49:36.5&end=1:3
(1) O Governo Federal nos EUA não controla as eleições, mas os Estados. Os mesmos passam a responsabilidade para os municípios (county ou parish). O Estado encarrega-se apenas das leis eleitorais. Por isso, as últimas alegações do Partido Democrata quando das primárias na Flórida (de que Jeb Bush não havia tomado as medidas necessárias para assegurar uma votação sem os problemas de 2000), são um exemplo de palavra baloney!